… rola pela sarjeta.
O táxi vai se afastando antes de sumir depois de passar pelo prédio fechado da ACM.
Durante o dia os moços cristãos vão ali para nadar, jogar vôlei… De noite a Lapa é região de outras cores, outros sons. A propósito, de quase todas as cores e sons.
Mais cedo, perto dali, na praça Tiradentes, eram as cores e sons da Laso que buscavam o que vai no fundo dos nossos pensamentos. Depois foi a vez da dança risonha das amizades em festa ao som pop-salsa em um bar de cores modernas cercado por um bairro de sombras antigas.
Mais tarde, já entre espectros noturnos, bem diferentes dos diurnos, aprecio a jovem que espera o ônibus raro e preguiçoso para retornar a sua casa.
Deuses se escondem nas noites urbanas assim como habitam as florestas na lua nova, mas os olhares que a moça lança ao redor não os procuram. Tão pouco caçam. São os olhares atentos de quem esquadrinha o generoso diâmetro do seu espaço pessoal.
Quando caem sobre mim convidam ao contato, ou talvez sejam os meus pensamentos que me traem.
Os táxis passam lentamente. Um para ao seu lado.
– Para onde você vai?
Ela responde, não ouço. O taxista, um homem com uma grande barriga e já alcançando a meia idade, diz algumas coisas que também não entendo.
– Carona? – Ela pergunta – Pode ser…
O cigarro entre seus dedos rola pela sarjeta enquanto o táxi segue além da ACM levando o volátil casal noturno.