─ Graraviola?

Visconde de Pirajá à noite. Chove insistentemente uma garoa densa que chega a descer pesada no frio de 14 graus. Um sujeito segura na ponta dos dedos um copo de plástico com chocolate muito quente enquanto permanece sentado meio desajeitado no banco de bar colocado na calçada. Sabe, um destes bancos altos de madeira que nos obriga a ficar na ponta dos pés para alcançar a posição para sentar.

O suco cheio de sotaque veio da conversa entre duas moças que escolhiam sua bebida. Uma lia desastradamente os nomes enquanto a outra decidia entre risadas que pareciam pequenos flashes de luz.

Ao redor de uma mesa pequena e redonda ─ ainda mais alta que os bancos ─ dois rapazes e uma moça de cabelos curtos, negros e lisos. Ela faz o pedido dos três num portunhol bem confiante, o grupo parece ser árabe, já notou que árabe tem cara de brasileiro?

Completam o cenário quatro senhores animados, parecem personagens de algum desenho francês, mas são totalmente cariocas, certamente testemunhas dos últimos 60 anos de Rio de Janeiro.

Não falta a eles nada do gingado, da sacanagem adolescente e do humor da Beverly Hills latina.

Um bem encolhidinho no balcão se aquece junto às empadas e rissoles, os demais gracejam as moças e falam do frio como quem canta uma música de Jobim.