– Ninguém me sacaneia! Comprei por 38 mil Reais um novo carro! Paguei à vista, porra! Ninguém me sacaneia porque tenho dinheiro!!

Ríspida a voz cruza o cobre da linha telefônica deixando-o rubro e incandescente sob o jugo da ira e do ódio que são conduzidos por ele!

– O banco me arrancou 27 Reais da minha conta sem avisar alegando que é um saque automático por cheque superior a 5 mil Reais! Porra! Não pago! Notifiquei o banco que teve que se encolher e acatar minha ordem! Eu não dou dinheiro a agiota e banco é agiota!

Não o vejo, mas o rosto deve estar vermelho, os olhos esbugalhados, gotas de saliva devem fugir da boca enfurecida e o coração deve bater em um peito apertado demais para ele…

Ao pobre homem do outro lado da linha todos os males convergem, atraídos como um corpo atrai o outro na razão direta da massa e inversa da distância.