— É para mim?

Uma menina recém saída da adolescência, seus olhinhos brilham a pele morena tingida pelo sol tropical e mechas de cabelo os emolduram. O vento da praia dá vida aos fios finos que fazem cócegas em suas bochechas avermelhadas, não se sabe se do calor ou pela timidez.

— Claro! Estavam ali na feira hippie gritando por você: Débora! Débora! Até se esganiçavam ao berrar! Hehehe!

— Ah! João! Você é o mais fofo!

Ela já está ajeitando um dos brincos de penas coloridas na orelha furada em vários pontos. Tem que tirar um outro brinco para dar espaço para aquele.

Ao redor deles o mundo passa sem perceber aquela pequena história entre tantas! O garoto de rua que oferece uma engraxada para o homem de pé no quiosque, a senhora que passa com um poodle de sapatos (o poodle), o velhinho encarquilhado que caminha resoluto a despeito de toda a dificuldade enquanto sua acompanhante o segue muito de perto com uma cadeira de rodas.

Em outras partes da cidade tem gente esquecendo do dia diante da TV, outras que não conseguem esquecer nada pois chegam em casa cansadas demais e só tem tempo de dormir por quatro horas para levantar por volta das cinco e vencer as calçadas em sua jornada de duas horas para o trabalho.

Tem aquela gente pequena que flui como rios para os colégios públicos vestindo suas blusas finas de tecido já meio encardido e tem outra gente maior que já segue em seus carros no meio do engarrafamento e mal se lembram dos dias difíceis quando não achavam que iriam longe.

E todas estas imagens e histórias vão passando girando como um carrossel em minha mente enquanto tento entender os dias que seguem.

É… Imagens falam muito mais que palavras…