Mary fê é um destes raros talentos, original sem fazer esforço, contemporâneo sem se tornar chato, vale o esforço!

A chuva quase gelada espremida nesta noite molhada entre os quentes dias de primavera que passaram e os que logo chegarão antecipando e verão faz as onze horas no relógio da Carioca soarem mentirosas ou fruto de uma misteriosa paralização do tempo.

A rua da Carioca segue vazia por mim enquanto o João Caetano vem chegando, apenas o bar Luis pisca insinuante sua última luz, um olho entreaberto se preparando para dormir.

Sempre me fascina ver o deserto em que se convertem as movimentadas ruas da cidade quando a lua vem reinar sob o obscuro véu noturno! Ao meu redor apenas um mendigo, o motorista mal vestido entrando em um carro caro e uns poucos, não mais do que seis, garçons ou porteiros desfeitos dos seus trajes formais e agora em roupas simples, de tecido estampado e fino.

A chuva vai apertando enquanto chego finalmente na praça Tiradentes onde luzes artificiais e grandes cartazes laranja com letras pretas tentam trazer um pouco da força diurna para a praça adormecida.

Inutilmente!

Somente o burburinho da tribo alternativa à espera das músicas traz o movimento do dia de volta, mas localizado à volta e dentro do teatro Carlos Gomes. Uma ilha de cultura e agitação cercada por toda aquela noite e a chuva lá fora!

Sabe, meu bisavô era mercador no deserto do Saara e atravessava escuros desertos para finalmente alcançar os oásis…