─ Mãe! Esta planta está toda seca! Você não molha ela não?
A janela do pequeno apartamento na zona sul carioca fica pouco acima da rua. A mulher atrás da grossa grade coberta de trepadeiras deve ter uns cinquenta anos. A voz que vem lá do fundo da sala é firme mesmo aparentando vir de uma senhora já beirando os noventa anos.
─ Ah! Filha! Eu me esqueço, né? Antigamente chovia mais aqui!
Há vozes que parecem tornar o ar sólido fazendo-o formar cubos que reverberam e nos acompanham pelo resto do dia. A voz anasalada e vibrante da velha mãe continua quicando nas paredes aqui de casa.
A filha ainda argui a mãe lembrando que tinha o porteiro que molhava as plantas dela e antes tinha o jardineiro quando eles moravam em Teresópolis. Inútil. A mãe, quando encasqueta com uma coisa não faz desvio nem para evitar as enchentes de verão. Exatamente como as avós da minha infância que trocavam seus causos na pracinha do bairro.
Continuo meu caminho imaginando o curso daquela conversa e os barulhos da cidade vão abafando aquele pequeno fragmento de passado até que ficam apenas as memórias.