A bicicleta já estava acostumada a seguir o mesmo trajeto entre Ipanema, Lagoa e Humaitá, fosse de dia, fosse à noite como desta vez. Era um caminho como tantos que nos acostumamos a repetir com os pés, rodas ou pensamentos.
Nenhum furacão passou, ao menos não fora dos devaneios do ciclista, mas desta vez a bicicleta buscou outro caminho, decidiu acompanhar a ciclovia ignorando o charme da fonte da saudade.
O novo caminho, sinuoso e escuro passava por árvores retorcidas e sem sombras, um pequeno estacionamento abandonado protegido dos olhares curiosos pelo véu que envolve os cantos escuros e feios dos olhares do mundo tornando-o quase invisível. Mais adiante a via se espreme entre uma cerca de metal trançado, a luz amarelada de um poste mais a frente estende seus tentáculos sobre as sombras revelando um cão branco que dorme do outro lado da grade e projeta uma sombra alongada do pedestre que faz sua caminhada imprudente ignorando as ameaças dos perigos noturnos do Rio de Janeiro.
Mas não havia sinal da bruxa má do Leste, nada transitava na noite além de umas poucas sombras…