Vou seguindo a passos lentos pela calçada escura. Em algum lugar acima da copa das árvores a lua quase cheia me acompanha. Um morcego passa sobre a minha cabeça chamando meus olhos para os galhos trançados das árvores.

Elas assistem a noite passar mantendo-se acima de todas as coisas, sob suas folhagens todos os sons desaparecem e apenas o leve roçar das folhas e o sutil guincho dos morcegos perturbam a noite. Sobre seus galhos altos a trepadeira parasita se estende deixando cair longas raízes aéreas e um vento mais frio cruza o ar aparentemente a convite daqueles seres altivos, as árvores.

Durante o dia a luz intensa do sol se derrama sobre elas, mas durante a noite é de baixo que vem a luz esbranquiçada e artificial dos postes mostrando folhas verdes contra a escuridão da noite que domina o espaço entre os troncos enegrecidos.

Do fundo da escuridão além da luz esquálida da iluminação urbana quase podemos ouvir a respiração forte de seres há muito esquecidos que nos fitam do passado alheios ao nosso presente tão distante das supertições e crenças.

Continuo caminhando até deixar o abraço gelado dos vigias ocultos, pouco a pouco meus sentidos são invadidos pelos ruídos de vozes, motores de carros, depois ônibus e finalmente o odor de escapamentos. Diante de mim, do outro lado da rua brilha o letreiro verde iluminado do Bank Boston: estou novamente em Ipanema…