Seu pai sempre lhe dizia com aquele timbre de barítono tendendo a baixo “Meu filho, você não deve ter medo de viver! Se uma oportunidade se apresenta você deve segui-la!”
Juventude de Adelina de Andrade Márquez de Alcântara
Puxa, mas aos 14 anos, uma menina linda era toda oportunidade que ele queria seguir e também era o que mais o apavorava!
Seria mais fácil discutir com a professora de física ou o rígido diretor da escola.
Beatriz. Ela sempre ficava ali daquele jeito, olhando através dele ou para as árvores do lado de fora da janela. Talvez ela sonhasse com algum ator de TV ou cinema ou quem sabe… Ah! Não! E se ela ficava pensando em um dos garotos mais velhos das outras turmas?
Em sua inocência de menino adolescente de um lar normal com pais que tem lá suas brigas, talvez até se traiam aqui ou ali, mas também encontram tempo para passeios no jardim zoológico ou um final de semana com o resto da família ele não poderia imaginar as sombras que encobriam os pensamentos da bela Bea.
Dos finais de semana sozinha com os pois ou com os poucos amigos do play, dos avós, tios, tias e primos que ela nunca encontrava pois os pais raramente visitavam o resto da família ou da estranha tensão que ela, menina que está descobrindo o mundo e vê o que os adultos já não enxergam por saturação, vê nos pais cada vez mais fechados e distantes dos outros, das brigas em voz baixa, entre os dentes, que os que olham de fora acham suave, mas ela sabe como estão cheias de raiva pronta para explodir para qualquer lado.
Não, ela realmente não percebe o admirador que senta duas fileiras atrás dela, também não pensa em atores ou em meninos mais velhos, ela pensa na vida.
Pintura: Juventude de Adelina de Andrade Márquez de Alcântara