No edifício se abriga mais uma destas multinacionais que agora são chamadas de empresas globais, mas bem que podiam ser chamadas de nações já que movimentam mais dinheiro que a maioria dos países. Pelo menos elas pagam bem a bons consultores…
Pego um café sem açúcar (costume sequestrado de uma amiga ranzinza), bebo olhando pela janela o canal que passa ao fundo e onde, paradoxalmente, alguns homens de Neanderthal capturam peixes.
Antes de sentar novamente decido ir ao banheiro. Entro. Distraidamente cruzo com um homem já de cabelos grisalhos saindo de trás de uma das portas dos vasos sanitários.
Ele passa desajeitadamente por mim, enrolado em duas ou três malas. Olha-me de soslaio com um certo ar de culpado. Lavo minhas mãos. Então percebo!
Ora, o que faz um senhor de terno saindo cheio de malas de um banheiro particular? Se fosse na rodoviária…
Naturalmente a primeira possibilidade que me ocorre é que, finalmente, alguém do futuro decidiu interferir e acaba de enviar um agente para o nosso tempo. Neste caso atrás da porta eu encontraria um redemoinho temporal e não um vaso. Fui ver!
Nada… Só o vaso. Olho com mais atenção, vai ver foi pelo teto que ele chegou. Nada. A conclusão é óbvia: eu não sou capaz de ver redemoinhos temporais! Claro!
Continuo meus afazeres sanitários, lavo a mão, uso apenas três folhas de papel e não 10 ou 12 como a maioria. Lembro do cara.
Quem sabe, talvez, ele não seja um viajante do tempo? Vai ver o sujeito teve uma baita diarreia. Saiu correndo para o banheiro, mas não a tempo de impedir a contaminação das roupas íntimas. Entrou direto na porta mais distante, se trocou suando frio. Secou o rosto com o papel, se recompôs e saiu novamente como se nada tivesse acontecido. Pode ser, né?
Não. Definitivamente era um viajante do tempo. Só espero que ele entenda melhor o nosso tempo do que nós entendemos a Idade Média…