“Uma manada de elefantes…”
“Hã???”
“Tô sonhando com uma manada de elefantes… Eles tão atravessando a rua… Tem uns coelhinhos segurando plaquinhas e mandando as formigas esperarem a manada passar para elas continuarem o caminho de volta para casa depois do trabalho… Tá de noite e todo mundo quer ir dormir logo, sabe?”
Ele abre os olhos, pega o celular do lado da cama e olha as horas, mais de três da madrugada… Ele apagou, não dormia na casa das namoradas, sempre preferiu dormir em casa, não importa a hora que a noite acabe.
Com ela foi diferente, foi ficando, conversando, teve o sexo… Nossa… Nossa… Ele procura definição, mas não acha, foi suave, alegre e profundo. Riram juntos na cama, conversaram mais e… E ele acordou com ela dizendo “Uma manada de elefantes…”
Sentado na cama, olhando para ela, os lábios novamente entregues ao sono profundo, mas encantadores, como se estivessem buscando sempre uma boca para beijar. Acompanhou a curva suave das bochechas, as sobrancelhas perfeitas, descobriu uma pequena cicatriz na testa, se divertiu com os cabelos jogados sobre o travesseiro.
Era uma noite fia, levantou-se olhando pela janela as nuvens iluminadas pela Lua e deixou o vento cortante despertá-lo totalmente enquanto dez, vinte minutos se passavam. Saudades de casa, da cama dele, de acordar sozinho… em silêncio… só ouvir algum som ao chegar no trabalho.
Silêncio… Deu vontade de ouvi-la falando novamente com aquelas vogais redondas e macias como os lábios e faiscantes como os olhos castanhos.
Um pouco de medo… Eles se conheceram não tem uma semana. Alguém pode ser perfeito?
Senta-se na cama arrepiado com a brisa fria. Ou será o toque da penugem que cobre a barriga nua dela?
Beijo na testa, ela sorri, ronrona… “Oi!” mas não chega a despertar, apenas estica os dedos, percorre suas bochechas, os lábios pedem um beijo (que ele oferece prontamente) e retorna ao sono com um suspiro feliz.
“Tô de saída cerejinha, me liga amanhã quando acordar!”
“Humhum…”
Ele desce o elevador cheio de saudades e felicidade antecipando o reencontro com ela mais tarde ou no final de semana… e não se surpreenderia se a madrugada solitária o brindasse com uma passeata de elefantes sonolentos.