– Droga!! Droga!!! Droga!!!!

O cabelo fino da menina se espalha rebelde pelo rosto. De tempos em tempos ela o sopra para o lado inutilmente. Em sua testa gotículas de suor parecem uma fina cobertura de purpurina. Belos olhos azuis e algumas espinhas que denunciam os meados da adolescência.

– Todas cheias! Saaaaco!!

O computador brilha diante dela enquanto as janelas são abertas e fechadas freneticamente, o alto falante emite uma interjeição que lembra um personagem de desenho que fez alguma besteira e exclama o-ouh! Várias carinhas piscam na janela vertical no canto da tela.

– Merda! E se o mundo terminasse hoje? Como ia ser?

O telefone toca, do lado de fora sua mãe berra que é a Júlia chamando para dar uma volta, ela ignora.

– Se está assim hoje, quando disserem que o mundo vai acabar não vou conseguir falar com ninguém para pedir desculpas! Para me despedir!

Uma lágrima sincera escorre pela bochecha rechonchuda enquanto as nuvens do lado de fora se afastam do sol permitindo que colunas de luz se derramem sobre a cidade tingida pelo vermelho do sol que se põe. Gaivotas voltam da jornada pelo oceano e borboletas amarelas desaparecem no lusco-fusco que já domina as ruas mais baixas.