A vida deles é feita de pequenos fragmentos de pura felicidade que duram para sempre… que voltam à memória e fazem até os dias chuvosos e tristes um pouco alegres com a promessa de um novo dia como aquele.

Esse dia sem dúvida teria que entrar para sua coleção de felicidades puras…

Uma bela e bem pintada porta vermelha dava acesso à passagem que descia a colina.

Era um lindo dia ensolarado em uma cidade perto do Mediterrâneo e tudo parecia novo, como se a cidade inteira tivesse sido construída para aquele dia especificamente.

Aberta… a porta na verdade estava entreaberta, e eles entraram; ela na frente.

Do lado esquerdo se enfileiravam casinhas de um único andar, não deviam ter mais de 80 metros quadrados cada uma. Pequenas varandas abrigavam ora cadeiras de balanço, ora redes, mas sempre havia alguns vasos de plantas vívidas de onde cascatas de folhas verdes escorriam para o chão.

O dia estava quente, mas a brisa era suave e fazia seus cabelos esvoaçarem e passarem na frente dos olhos e dos sorrisos.

Seria difícil não sorrir se, por algum motivo, eles tivessem a vontade insana de não se entregar à simplicidade singela daquele lugar!

Do lado direito havia um muro marrom escuro, bem escuro, como o tronco de árvores. No topo telhas bem claras lhe davam uma aparência de muro de brinquedo. Atrás dele havia somente a vegetação que cobria a colina como uma preguiçosa onda do mar que se esticou até ali e nunca mais quis voltar.

Os dois descem pela escada… Não era bem uma escada. Era um caminho de cascalho de rocha com cimento onde damos oito ou dez passos antes de encontrar um pequeno degrau cuja borda é enfeitada com uma rocha bege, quase branca.

Havia algo de mágico no lugar ou eram seus corações esvaziados de todos os medos e responsabilidades que lhes dava aquela sensação de pura liberdade? Talvez aquele fosse um outro mundo onde ninguém trabalhava com coisas mais importantes que os verdadeiros prazeres da vida… amizade, um tempo olhando as nuvens passarem, essas coisas, você sabe… Não sabe?

De uma das casas saiu uma moça, lá pelos seus 32 anos, mas aparentando pouco mais de vinte. Ela vestia cores sóbrias, preto e branco. A saia curta era preta e um colete também preto cobria uma blusa branca com babado francês no peito. Na mão direita ela carregava uma pasta também preta. Com certeza estava indo trabalhar.

Os dois a olharam e, por um instante, tiveram medo de serem considerados intrusos na singela passagem que somente os moradores parecem conhecer.

Um sorriso da moça e um cumprimento de boa tarde os tranquilizou. Ela seguiu ligeira em seu caminho, mas seus olhos brilhavam como os deles.

É… Pelo jeito eles acharam mesmo um outro mundo onde as coisas importantes estão em seus lugares certos.

Muitos anos depois aquele lugar ainda está com eles pois há lugares que não estão presos ao mesmo lugar no espaço, eles se abraçam a nós e nos acompanham sempre que lhes permitirmos voltar à nossa memória.