Buscava quem comprasse uma máquina de costura antiga.

O mundo lá fora segue trumbicando para o século XXII apesar de se agarrar ainda apaixonadamente ao XX, mas ali dentro os séculos desaparecem, o tempo parece parado em 1977 apesar de um sinal aqui ou acolá do que quer que seja o nosso tempo atual.

“Tenta ali na loja 55”

A moça estava quase perdida entre grandes móveis pesados e escuros, luminárias com abóbodas de vidro fosco trabalhado, todas acesas.

Passo pelo grande mercado à minha direita, mais à frente há uma loja de artigos religiosos onde, desde a minha infância, me impressiono com um grande diabo que sorri animada e salientemente.

Pronto! Loja 55.

Vazia de pessoas, repleta de pequenos universos de histórias. Uma cadeira e uma mesa bloqueiam a entrada, elas bem poderiam estar ali desde o início dos tempos. Quem sabe não é uma entrada, mas a saída e, em algum lugar entre os cristais de uma família nobre há muito esquecida e um par de ânforas existe uma estreita brecha de outro mundo?

Fico ali observando, como será que as pessoas que passam não roubam algo? Ao meu lado outro homem observa a loja, um desconhecido. Grito para dentro “Olá… Olá!!! Alguém ai?”

“Está sempre assim”

Olho para o homem ao meu lado e digo alguma coisa, explico que procuro quem compre uma máquina de costura antiga…