Enquanto o arranhar irritante do motor mal lubrificado do elevador berra ritmadamente por tempo suficiente para se tornar apenas mais um ruído de fundo com o qual nos acostumamos, o elevador vai subindo com seus dois passageiros encostados a suas paredes.

Um deles, um rapaz, tem sua atenção totalmente roubada pelo celular que ele mantém firmemente apertado contra o ouvido enquanto insiste com uma voz impaciente e um jeito de dizer as palavras como se as soletrasse.

– E-u t-e l-i-g-u-e-i n-o f-i-n-a-l d-e s-e-m-a-n-a, m-a-s d-a-v-a f-o-r-a d-e á-r-e-a!!

Apesar da impaciência o final de cada frase ganhava uma entonação carinhosa, até delicada .

– É o que eu estou te dizendo! Só dava fora de área ou caia direto na caixa postal!

A voz do outro lado falava copiosamente impondo longos segundos de suspense. Uma mulher certamente, mas esta suposição é pura intuição já que o celular permanecia tão grudado á orelha do rapaz que não se ouvia sequer um sussurro do outro lado.

– Olha… Ai onde você está… É município! Tá me ouvindo?

Cada palavra ainda mais soletrada do que antes, mas inutilmente!

– Município! Ai é município!

O elevador chega ao seu andar e lá vai ele repetindo

– Município!! M u n i c í p i o ! ! !

Os guinchos do elevador crescem enquanto ele sobe se aproximando das máquinas.

Lá do fundo do poço vem a voz abafada:

– Município….

E vai morrendo na distância…

Dia dos tolos

Uns dizem que começou na França, outros que é coisa da mudança do calendário Gregoriano e ainda tem os que dizem que surgiu com o golpe de 64. Seja como for esta mania de fazer os outros de tolos nunca me agradou. Felizmente o meu passou em branco este ano!