Imagem: Tirinha de Kiriakakis – Mused (Leia! Pode mudar sua vida!)
É domingo, alguns amigos acabam de sair do culto vespertino na bela igreja presbiteriana de Copacabana e vão caminhando pelas ruas do bairro sem direção enquanto conversam animadamente sobre os mistérios do universo.
– Vc acha mesmo que não tem mais vida nenhuma além de nós no Universo inteiro, Clara?
– Eu não disse isso, Raphael, o que eu disse é que duvido que eles tenham vindo para cá. Você tem preguiça de ir para a Barra, por que acha que uns aliens vão atravessar milhares de anos para vir nos ver?
Os dois são os mais animados do grupo, gostam de discutir e até parece que decidem discordar de propósito. É bem capaz deles estarem dizendo exatamente o contrário em uma semana.
Mariane, Viviane, Carlos e Cláudio estão muito ocupados pensando em onde o grupo vai se espalhar para conversar, namorar e aproveitar as últimas horas do domingo.
– Tá, Clara, então como você explica todos os óvnis que as pessoas enxergam todo tempo? Tem vídeos no YouTube! E os sons que vem dos céus? Tá cheio de provas!
Clara é a típica nerd que tira notas altas no colégio e gosta de passar o tempo lendo ou estudando a menos que esteja saindo com os amigos e, afinal de contas, o jogo é discordar, certo?
– São Devas Raphael! Tipo fadinhas, saci Pererê, boitatá! Hihihihihihihi!
Ela olha para ele se perguntando se ele vai entender a insinuação dela, os outros amigos viram para eles por um instante e repetem “Boitatá?” e caem na gargalhada antes de voltar a decidir onde irão. Talvez tenham rido da palavra, talvez da audácia da Clara.
– Pô, Clara, tô falando sário! Se tiver alienígenas entre nós é bom a gente saber, pode ser perigoso!
Ele não entendeu a insinuação e clara sorri com o canto da boca com uma dose de ironia e triunfo, mas também com o carinho dos amigos de verdade que podem se dar ao capricho de sacanear uns aos outros.
– Raphael, essas hipóteses eram muito sérias no século retrasado. As pessoas se preocupavam mesmo que pudesse ter seres sobrenaturais na natureza que poderiam interferir em nossas vidas. Agora ninguém mais acredita nisso… Nem a gente que é protestante pensa tanto em anjos mais, todas as coisas sobrenaturais ficaram tão distantes… Aliás podem ser anjos de Deus também, por que não? Talvez sejam fissuras no espaço-tempo, visitantes humanos do futuro ou o Doctor nos visitando na Tardis para ver se está tudo bem! Hihihihi!
– Há quanto tempo você está preparando essa resposta, Clara? Achei que você ia perder o fôlego no meio, ficar rocha e desmaiar! – E ele solta uma uma risada de quem decide perder a rodada ou vai mudar de estratégia – Tá, bom, tá bom, eu percebi que isso não é uma resposta e sim um monte de perguntas. Não sou burro e nem esquecido, sua boba!
“Vamos para o pontinho” dizem os outros amigos em coro. Pontinho é uma casa de sucos de esquina que tem uns lugares logo em frente onde eles podem se amontoar e assistir as pessoas passarem e a noite se aprofundar.
Os assuntos seguem erráticos entre as trilogias literárias do momento, ondas de protesto popular, as provas finais do colégio que se aproximam e, claro, o flerte natural entre jovens com menos de dezesseis anos.
Raphael ainda olha meio distante para os outros refletindo sobre como ele gosta da ideia de seres de outros planetas entre nós, como ele abraça feliz essa resposta enquanto gente como a Clara parece ter medo de respostas… Ou será que é ele que teme um mundo de perguntas onde o chão onde pisamos pode se transformar a qualquer momento? Mas isso pode ficar para depois porque a Clara já está mergulhada num papo sobre esmalte com a Viviane e Mariane, que faz o coração dele bater meio oco dentro do peito. Está sozinha com seu açaí olhando para os outros e rindo aquele sorriso que faz a noite parecer dia…