Um café no Santos Dumont, dois homens e uma mulher, os três por volta dos 50 anos, trocam palavras, sorrisos e suspiros de tempos em tempos. Eles estão se despedindo.
Aeroportos tem uma atmosfera de encontros e partidas que se infiltra nas nossas emoções mesmo quando estamos apenas vagando de um trabalho para outro, mas dessa vez a história que se desenrola é a deles. Família.
Dois são casados há mais de trinta anos, o outro entrou no casamento há uns dez, é ele que está iniciando outra jornada, um novo marido, uma outra cidade.
Eles não falam ainda sobre a despedida, isso ficará para mensagens trocadas por WhatsApp, para posts em blogs ou para quando se reencontrarem. Falar sobre isso na despedida doeria demais ainda que estejam todos felizes pois onde há amor há liberdade e a felicidade de cada uma das pessoas na família vem antes da própria necessidade da presença da outra pessoa.
“Puxa… Eu ainda tenho ao lado a pessoa que está comigo faz mais de trinta anos, não estou mudando de cidade e nem a caminho de fazer uma família nova.” é mais ou menos o que pensa cada uma do casal que fica, dá para ler nos seus olhos se prestar muita atenção, mas aí eles falam nisso claramente com o marido porque família fala, diz que está ali e que está entendendo as outras partes. Algumas vezes não está entendendo e falar ajuda a descobrir mais um pouco sobre a outra pessoa, afinal nós mesmas estamos sempre tentando nos entender, não é?
Família.
Ainda outro dia vi numa série, e desculpe agora pois vou divagar um pouco, Carnival Row. Era um triângulo amoroso moderno, uma situação bem parecida, duas pessoas que se amam, uma delas acha uma outra. A resolução do drama é “Vá! Essa é a sua nova jornada! Nós sempre estaremos bem entre nós!”.
Sem a mácula da posse, do ciúmes, do egoísmo. Família.
Os três vão juntos até onde podem no portão de embarque, se abraçam, choram, saem da fila, conversam um pouco mais, se abraçam novamente.
Imagino alguém como eu observando o trio e imaginando sua história, o amor que os une.
Sobrevive a tudo? O amor? Isso a gente nunca sabe, mas vou contar como é comigo: a tudo…
Fico aqui pensando na necessidade de explicar esse casamento, mas me parece que não falta mais nada a descrever e que as pessoas perguntam pelas coisas erradas sobre as outras e seus relacionamentos. Perguntam sobre sua sexualidade, não sobre seus sonhos, devaneios, qualidades. Perguntam sobre as conexões erradas nos relacionamentos quando deviam perguntar sobre as histórias conjuntas.
Família…