– Tá, então por onde eu começo?

– Primeiro você tem que saber o que você quer fazer.

– Eu hein!? Uma pipa, eu já disse!

– Para quê?

– Ãh?

– O que você vai fazer com a pipa, ora!

– Dã!!! Soltar ela!

– Só isso? Vai fazê-la subir e ficar olhando?

– Hummm… É…

– Tem vento?

– Vento?

– É, pipa não sobe sem vento.

– Sei lá, não pensei nisso, a gente faz a pipa e espera o vento vir, um dia vai ventar, né?

– É… Um dia venta… Ai a gente fica olhando a pipa lá no alto, é isso?

– Bem, a gente pode passar cerol e cortar outras pipas! Que tal? Depois saímos correndo atrás das que caírem.

– Então vamos precisar de outros soltadores de pipa, ou pipeiros, não sei como se chama isso. Parece que ninguém mais solta pipa hoje em dia, só ali no morro.

– É mesmo… Mas eles não se dão muito com gente como eu…

– Jura? Pensei que fosse gente como você que não se dava muito com eles.

– Eu não! Eu sou uma pessoa normal, eles são… são pobres, não vivem no mesmo mundo que eu.

– Até ai… Também não vivo no seu mundo, aliás seu mundo me parece beeem esquisito.

– Você é que é um amigo imaginário muito estranho!

– Quem disse que sou imaginário? Gatos de botas são mais reais do que a maioria dos humanos, vocês nunca prestam atenção no que são e acabam fazendo coisas sem sentido como pipas que não servem para nada.

– Com que idade a gente deixa de ver amigos imaginários, hein?

– Assim que você perde a capacidade de mudar a você mesmo e a sua realidade. Toma…

– Que é isso?

– Um desenho de pipa, ela vai voar até com pouco vento e poderei vê-la de onde estiver, assim, se você decidir me ver novamente, é só soltá-la bem alto.

Photo by James Lee on Unsplash