De bicicleta… Eu estava de bicicleta voltando de Botafogo lá pelas 20h30m.

Uma chuva agradável descia do céu noturno refrescando a noite quente. Adoro chuva, mas de bicicleta temos que andar mais devagar para não nos encharcarmos com os respingos que sobem com o pneu girando.

Cheguei na Prado Júnior e decidi parar para observar o espetáculo e esperar a cortina luminosa se enfraquecer.

Toda forma de vida passava na esquina ao meu lado. Garotas e garotos de programa, estrangeiros, meninos de rua com seus limões (para o malabarismo), moças recém saídas do banho caminhando de havaianas. Será que hoje é uma noite qualquer para todos eles?

Distraído demorei a notar os raios que iluminavam as nuvens em espaços cada vez menores. Quando minha atenção se voltou para eles percebi que o melhor a fazer era atirar-me de encontro ao fino véu de gotas brilhantes de chuva tentando chegar em casa antes da tempestade que se aproximava.

Ah! Como os edifícios e luzes da cidade dificultam nossa ligação aos movimentos da mãe Terra…

O furor das águas que despencavam dos céus como ondas de um mar revolto me encontraram ainda muito longe de qualquer esperança de abrigo.

Entreguei-me totalmente e me deixei envolver nos braços suaves da noite como Pan se entregaria aos encantos das fadas de Titânia.

Foi então que lembrei que esta é mesmo uma noite especial, marco da primeira colheita se ainda fôssemos capazes de ver crescer o alimento que chega à nossa mesa.

Vim de alma e corpo entregues às águas que me purificavam e nutriam para os dias que virão!