O toldo do boteco não é suficiente para proteger da chuva as mesas espalhadas sobre a calçada. O vento borrifa as minúsculas gotas nos pelos do seu braço fazendo-o se arrepiar enquanto a batata frita esfria rapidamente.
Sozinho… curvado sobre o chopp ele parece estar em câmera lenta movendo-se como se estivesse debaixo d’água. Ao redor o rumor das vozes, risadas e passos rápidos continua orquestrado pela baqueta frenética do espírito urbano.
As portas dos grandes edifícios de abrem e as figuras desfocadas de executivos, advogados e office boys cobrem como formigas as calçadas e bares da Cinelândia. Levados pelo vento, fugindo da garoa, sedentos pelo amargo da cerveja.
Onde vão todos? Ele se pergunta se são eles que escolhem seus rumos ou se apenas repetem os caminhos de outros e as vozes dos cartazes e televisores.
Então os lábios da morena na outra mesa, o aluguel a pagar, o emprego a manter e o medo do vazio capturam sua atenção. Vem mais uma rajada de vento e gotículas geladas empurram seus pensamentos de volta à trilha.