Negra, magra e encarquilhada ela vem descendo as escadas do metrô de Botafogo. A pele flácida e vincada estampa as sete décadas que ela aparenta ter assistido. Suas roupas e rugas arrastam os anos que passaram e formam uma atmosfera de estações de trem feitas com madeira seca que range com o peso dos populares.

Ela, a mulher, mais parece uma colagem numa paisagem a que não pertence; mas está ali, encurvada, descendo as escadas.

Caminha formando um C invertido, um sinal de conjunto contido depois do tempo que passou carregando sacolas pesadas na mão esquerda e tentando compensar o peso para o outro lado. É um conjunto contido entre as paredes do tempo escasso das conduções demoradas, dos tostões amassados no bolso e da casinha no subúrbio quente do Rio.

É gente mágica que frequentemente desafia todos os sinais de miséria e revela o mais raros e nobres espírito e sabedoria humildemente pousados sobre o feltro sombrio do corpo cansado e castigado.