Sempre houve um enorme descompasso entre as fronteiras da ciência e as pessoas que precisam se dedicar mais às tarefas cotidianas do que com os mistérios do Universo.

Se eu tivesse 10 mil anos de idade me lembraria como, até uns 5 mil anos, a ciência sequer conseguia abrir espaço entre as crenças e, os que se dedicavam a ela o faziam escondidos.

Mais tarde surgiram as bases da ciência através da astrologia, da alquimia e da filosofia, mas quem, além dos grandes sábios, tinha acesso a quaisquer desses conhecimentos?

Na China tivemos a primeira onda de conhecimento acessível, mas só depois da prensa de Gutenberg pode-se dizer que o conhecimento começou a se tornar acessível, mas quantos eram capazes de ler? Era uma época em que, para ler uma grande obra, era mais fácil aprender o idioma em que foi escrita do que procurar uma tradução.

Ainda no século passado tivemos nos EUA o embate entre crença e ciência com vitória da crença o que deixou o estudo da evolução em escolas eliminado dos currículos por 30 anos.

Hoje temos a Internet com uma penetração dezenas de vezes maior do que qualquer outra forma de mídia no passado (ainda que não atinja mais do que 50% dos humanos) e artigos apressados e equivocados sobre a estrutura mais íntima do Universo (o bóson de Higgs) chegam aos TT do Twitter (onde só se fala bobeira de acordo com algumas revistas) poucas horas depois que o comunicado oficial é feito.

A divulgação científica é cada vez mais rápida, o conhecimento cada vez mais democrático.

Talvez exista uma relação entre conhecimento e sabedoria, afinal nosso tempo se mostra mais moral, humano e empático (e vejo a empatia como profundo sinal de sabedoria) do que o que vimos no passado.

Apesar disso a cultura e o conhecimento não são garantia de sabedoria.

Não que ela tenha que ser despertada por deuses que são frequentemente sequestrados por pessoas nada sábias, mas espertas e mal intencionadas, mas é necessário algo mais do que ciência… Precisamos de uma certa humildade, da capacidade de nos colocarmos no lugar dos outros, de tranquilidade interior, de saber ouvir, saber falar, saber calar…

A sabedoria pertence ao universo das amizades sinceras e, se possível, das famílias saudáveis.