Apaguei o X do celular. Tava me dando tristeza ver aquela marca sinistra que conduz a um lugar que já foi do encontro de amigos, de marcar cinema ou teatro com a galera, de receber e dar notícias em tempo real, de conversar com empresas como se fossem uma de nós…

Um bocado de gente que gosto muito continua por lá, mas é como se agora córregos apodrecidos convergissem para o vale, outrora ensolarado e verdejante. Tudo porque uma força do caos se apoderou do lugar e abre as portas para o que há de mal, planta pragas espinhosas…

Às vezes o lugar nos afasta das pessoas…

Publiquei os parágrafos acima no Mastodon, mas sinto necessidade de falar mais, de viver o luto.

Me rendi ao Twitter em 8 de janeiro de 2008. Desde então, antes mesmo dos smartphones serem populares, sempre tive alguma forma de acesso configurada no meu celular. No começo nem existia aplicativo e usávamos um jeito de twittar por SMS!

Já falei um bocado em abril no post Adeus ao velho point das amizades como o Twitter foi importante para mim e como estava triste vendo que ele estava no fim, mas ainda persisti. Inclusive depois que virou “X” ainda mantive o app no celular.

Não é que não tenha substituto (o Mastodon está tão bom quanto o Twitter nos tempos áureos) e nem é que o Twitter já não estivesse deteriorando há vários anos. É que foi… digo… está sendo como um assassinato.

Antes existia pelo menos a sensação de um acordo tácito em que o Twitter tinha donos, mas que nós o mantínhamos em troca de ter aquele espaço para fazer o que só podia ser feito lá. Quem viveu o Twitter até 2014 entende bem a proximidade e velocidade que ele proporcionava. Depois esse acordo foi sendo abandonado pelos donos e, quando entrou o… nem dá vontade de falar o nome da pessoa pq merecia mesmo era o esquecimento, vou chamar de “o space karen” como muitos chamam.

Enfim, o space karen entrou deixando claro desde o princípio que não tinha qualquer compromisso ético ou moral com a comunidade de quase 500 milhões de pessoas (convenhamos que metade disso já devia estar afastada há tempos) e que faria do Twitter o seu parque de diversões para promover a “liberdade de expressão” que consiste, para ele e seus similares, em ter o direito de agredir qualquer pessoa, grupo, cultura, crença além de espalhar todo tipo de maluquice conspiracionista.

Agora virou X. Não é só um nome jogado no lixo, é o golpe definitivo para deixar claro que o Twitter não existe mais. Agora:

“X é o estado futuro de interatividade ilimitada–centrado em áudio, vídeo, mensagens, pagamentos e banco – criando um mercado global para ideias, bens, serviços e oportunidades. Alimentado por IA, o X conectará todos nós de maneiras que estamos apenas começando a imaginar.” de acordo com a CEO do X em artigo da Forbes.

Nem vou comentar aqui o quanto a ideia é estúpida porque isso seria assunto para o meu outro blog, o Meme de Carbono.

O lugar aqui é o do luto.

Sim. Luto porque nunca senti tão claramente que a Internet não pode ser uma rede comercial, que a Internet precisa de espaços públicos onde somos cidadãos, cidadãs, cidadanes e não massas manobráveis por algoritmos que procuram torcer nossos vieses, consumir e transformar nossos desejos e até o que publicamos online buscando sempre a próxima trend, o próximo retuíte (que fomos nós que inventamos e também deixou de existir) a viralizar.

Um parênteses… Quase tudo que existe na cultura online, dos emojis a hashtags passando por dialeto, estilo linguístico e gramatical foi crianção nossa, das “pessoas da Internet”. Nunca deixem te roubarem esse protagonismo! Ainda somos nós que fazemos A Rede!

Se não existissem as redes federadas, mantidas independentemente por pessoas como eu e você que lê, provavelmente eu teria me retirado de todas as mídias sociais… Ainda olho os stories do Instagram… Eu sei, eu sei… Mas sou daquelas pessoas que vai até o inferno por amigues ;-P

Aff… Acho que basta de desabafo. Eu precisava colocar para fora no bom e velho estilo blog: não sei bem onde esse post vai dar, mas tá dando comichão aqui nos dedos!

Foto de Gabriel na Unsplash