Girdle of Thorns por Ketzirah Lesser & Art Drauglis

Relato de um contato no Facebook só vou tirar os nomes porque ainda está em trâmite legal)

“É muito impactante ouvir frases como “Você tá f*dido! Seu neguinho f*lho da p*t?.” entre outras.
Isto na saída da delegacia, após registrar boletim de ocorrência por injúria racial contra uma senhora extremamente arrogante que utilizou a palavra urubu direcionada ao staff que cuidava da porta da festa de ontem, do qual faço parte.
A senhora, que se identificava como **** *****, em diversos momentos, evocou o sobrenome na tentativa de impressionar o policiais.
Durante todo o ocorrido, pensei diversas vezes se manteria a acusação e o prosseguimento até a delegacia. Após ouvir as palavras de intimidação da referida senhora, não tenho dúvidas de que preciso ir até o fim. Agora, com uma representação para instaurar oficialmente o processo criminal.

Aprendizado: não existe esforço de empatia que seja suficiente para descrever uma situação como esta. Falamos das grandes corrupções e nem sempre atentamos para as pequenas corrupções cotidianas. Sair do Paés é a solução? Honestamente não creio. Agir de acordo com meus valores e crenças, com intuito de exterminar atitudes como a que vivi na madrugada de sábado para domingo, parece-me ser mais coerente.
Vamos em frente! O que importa é a caminhada e as pegadas que deixamos.”

É de relatos assim que vem os contos e crônicas que escrevo.

Acho que apenas a arte pode lançar luz sobre as regiões escuras onde os medos germinam, onde a ignorância transforma as diferenças em sombras sinistras.

Os personagens desses dramas cotidianos podem se cansar e fugir do espinheiro em busca de onde sejam respeitados apenas para encontrar outros cantos escuros (sempre há cantos escuros), podem encontrar utopias onde os cantos escuros são apenas oportunidades de superação e há os que ficam para cultivar as flores de seus espinheiros.

Na fantasia podemos viajar por todos os universos possíveis, desenvolver empatia por cada um deles.

Quem foge leva sua realidade para outros lugares enriquecendo-os. Algumas vezes voltam trazendo brisa para onde antes o ar estava estagnado apodrecendo almas e corroendo esperanças. O corajoso que fica pode ser o conformado que se vangloria de ser o único dos seus semelhantes que vê a realidade corrompida em que vivem.

São infinitas personagens que devemos conhecer e aprender a amar ou pelo menos entender.

Jamais hostilizarei quem desiste. Cada um de nós escolhe suas missões.

Mas admiro quem não foge. Também prefiro não fugir. Aliás, nem dos problemas de onde vivo, nem dos de lugares mais distantes.

Lugares mais distantes… A Terra é uma ilha tão pequenina no Cosmos praticamente infinito. Não tem lugar longe e o que acontece em um reflete em todos os outros pontos.

Assim como o Doctor eu assumo que no final as coisas boas sempre prevalecem. A história está a favor dessa hipótese.