Sempre fui inimigo da mídia de massa, eram meus moinhos que me faziam me sentir como o a flor de lótus de uma terra inculta.

Tem uma parte de nós que fica satisfeita quando crê que a maioria das outras pessoas são idiotas e que nós temos uma religião melhor, uma cultura mais elevada, um gosto mais refinado.

Ainda não cheguei ao terceiro parágrafo e já fugi do assunto que eu queria abordar ;-)

Mas é que vejo tanto, mas tanto preconceito entre costumes… Gente que gosta de esporte, gente que não gosta, gente que vê TV, gente que não vê, gente que lê, gente que não lê etc.

E ainda ficamos falando mal das religiões quando um cristão entra em conflito com o outro para mostrar qual é o cristianismo mais certo (troque cristianismo por qq outra coisa).

E os leitores não olham com escárnio para quem lê os livros errados? O culto não faz pouco da cultura do outro?

Pronto, agora perdi mesmo o alvo, aliás mudei definitivamente de alvo :-)

Vou assumir aqui os meus pecados recentes ao desprezar Harry Potter e Código Da Vinci, também terei que pagar meu carma :-)

O fato é que isso é, no mínimo, tolo e, muito provavelmente, arrogante e estúpido.

Porque o mundo inteiro tem que admirar a mesma cultura que nós? Uma pessoa que lê Harry Potter é inferior a uma que lê O Menino do Dedo Verde?

Tá mais do que na hora da gente assumir uma postura mais adulta diante das nossas diferenças e passarmos a nos valorizar não por nossa superioridade cultural, intelectual ou qq outra coisa cosmética. O que nos torna maiores é a capacidade de sermos do mesmo tamanho de todos os outros… Se um sabe mais de física quântica o outro sabe mais sobre química. Se um sabe mais sobre ciência o outro sabe mais sobre pessoas (não preciso continuar com os exemplos, né?).

E o que tem tudo isso a ver com a mídia de massa que eu sempre odiei (e pelo jeito vou conseguir voltar ao meu alvo).

Uma das coisas que mais escuto é “a mídia de massa não me representa” ou “a mídia de massa é para o povo burro” (ou “povão” que dá no mesmo).

Isso é justamente a arrogância que falei lá em cima e é claro que a mídia de massa não representa a mim, Roney, ou a você! Tenhamos um mínimo de clareza de visão aqui: ela representa a massa! Esse é o papel dela.

Crer que existe uma conspiração midiática para deixar as pessoas estúpidas pode fazer muito bem ao nosso ego, afinal nos coloca como os cavalheiros andantes que enfrentam o monstro invencível… Quem leu Dom Quixote sabe muito bem que a obra é justamente uma crítica a esse delírio. Não se resolve nada agindo sob efeito do delírio.

Eu tive um ponto de virada e foi por causa da Débora Falabella quando ela montou Noites Brancas de Dostoievski. Na fila encontrei dezenas de jovens que nunca tinham lido uma peça, mas atraídos pela atriz global não só estavam ali, mas muitos tinham lido antes de ir para saber o que esperar.

A realidade para que eu fui despertando (e continuo despertando) é que a maioria das corporações de mídia não tem qualquer plano secreto além de ganhar dinheiro e fazem isso perseguindo nossa atenção.

Em vez de ficarmos reclamando do que não gostamos na mídia de massa o que deveríamos estar fazendo é lhe dizer do que gostamos!

Em vez de dizer aos amigos para não assistir esse ou aquele programa vamos lhes mostrar programas melhores! Sempre fiz isso com música clássica, dança, cinema, teatro… Sempre com ótimos resultados.

Esse texto todo foi porque achei bem legal a página do Globo Teatro aqui e ia dizer que muita coisa mudaria na emissora se eles tivessem mais fãs lá do que na página da própria Globo, mas agora o texto adquiriu outra dimensão e caberia uma lista de coisas como o Globo Cidadania, o Itaú Cultural, o CCBB e uma infinidade de outras frentes culturais de grandes empresas.

Fica aqui só a dica original, porque eu AMO teatro:

www.facebook.com/GloboTeatro