Passei seis dias na Argentina. Fui acompanhando minha esposa na conferência de tradução do IMTT.
Chegamos dois dias antes para passear por Buenos Aires com um amigo que também é tradutor e depois passamos quatro dias em Córdoba.
Encontrar com pessoas empreendedoras em qualquer área sempre é fascinante, mas caminhar entre outras culturas é melhor ainda e por isso resolvi escrever esse post. Mas antes vou compartilhar as dicas que fomos aprendendo na breve viagem.
Dicas
É bom levar uns 500 pesos no bolso, mas não troque seu dinheiro todo pois, pelo menos atualmente, o câmbio lá é melhor (1 real = 2 pesos aqui e a 2.2 lá). Faz diferença se você for pagar tudo em dinheiro o que me parece ser mais econômico que pagar as taxas dos cartões de débito ou crédito.
Em Buenos Aires a maioria dos estabelecimentos tem umas plaquinhas na frente com o câmbio do dólar, do euro e do real (algo que a gente devia copiar no Brasil). Alguns oferecem câmbio de 2.4 para o Real. Se bem que esses são os restaurantes mais carinhos.
O melhor lugar que achei para fazer o câmbio foi no próprio aeroporto (trocamos em Córdoba).
A parte de grana não foi complicada, mas o celular…
Aliás quem criar um serviço de cartão de crédito ou chip 3G para celular descartáveis vai ficar rico.
O roaming da Oi fica por 4,5 Reais o minuto e, pasme, 33 reais o MB de dados! Mandamos ativar, mas ficamos felizes com a incapacidade deles em fazer a ativação. Como tem bastante Wifi por lá usamos nossos celulares para nos comunicar por Twitter etc.
A última dica é: Ande. A melhor forma de conhecer uma cidade e seu povo é andando, interagindo. Coisa que fiz mesmo sem falar espanhol (o que garantiu muitas risadas aos amigos).
Vou contar só uma… Fui chamar o garçom e falei “Oi!!”. Uma amiga me avisou que hoy em espanhol é hoje. Não pensei duas vezes: olhei para o garçom e chamei “Hoje!!” :)
Ah! Não foi a última dica não! Pontos turísticos!
Em Buenos Aires tem que ir na livraria Ateneu que pode não ser mais lúdica e nem maior que a Cultura de Sampa, mas é linda. A uns 6 quarteirões entre ela e Porto Madero (onde ficamos hospedados) tem uma esquina com um banquinho com a Mafalda do Quino sentada! Um charme! Não fomos a Tangos, achei que era como ir no Scala no Rio :) O resto você acha passeando.
Córdoba é uma cidade linda! Ficamos num hotel quase na fronteira dela, mas deu para ir caminhando os 6km até o centro (ela tem uns 10km de diâmetro. O centro é onde parece ter as coisas mais interessantes como praças, um rio que fica dourado antes de anoitecer e uma boa quantidade de bares e restaurantes que fecham por volta de 1h da manhã.
Finalmente… Como toda cidade há regiões perigosas, mas se você tem costume de andar em grandes cidades do Brasil provavelmente reconhecerá as regiões perigosas das cidades argentinas. O povo é extremamente simpático e me trataram sempre muito bem (melhor ainda em Córdoba).
A Experiência da Viagem
Isso me leva ao que achei realmente ótimo: como o povo de lá parece com o daqui!
Os canais locais de TV parecem muito com os nossos, as lojas, quando não são as mesmas, são bem similares.
Tem exceções, claro, lá todo lugar tem media luna (croissant), todo quarteirão tem um quiosko e os supermercados (enormes) ficam dentro de shopping centers, mas são diferenças cosméticas ou até fruto do clima mais frio e muito seco (eu dava choque em tudo!).
Os jovens nas ruas, sentados nas praças ou nas portas de lojas fechadas, namorando ou conversando em grupos ou em casais (inclusive do mesmo sexo), darks, emos. Olhando desavisadamente parecia uma cidade brasileira no inverno.
Essa semana recebi da Bia Quadros um texto interessante (em Inglês) sobre a Ilusão da Percepção Assimétrica (também no clipping) que nos faz eleger outros grupos como estranhos e demonizá-los além de nos fazer crer que sabemos muito sobre os outros e que nós mesmos somos muito mal compreendidos.
É isso que aprendemos quando viajamos com a mente aberta: que nossa percepção é assimétrica em relação ao que achamos que entendemos dos outros e que os outros entendem de nós. Para ficar mais claro: é comum ver o adolescente reclamar da falta de responsabilidade e excesso de individualismo dos outros adolescentes. Parece um paradoxo, mas é apenas essa percepção assimétrica: os adolescentes modernos se preocupam em não ser individualistas, mas não conseguem ver isso uns nos outros.
Vejo as rixas contra argentinos em várias ocasiões aqui no Brasil, mas estando lá encontrei um povo que não se parece nada com as imagens negativas que são feitas deles. Certamente o mesmo ocorre com um argentino que vem ao Brasil.
No caso de Brasil e Argentina as distâncias culturais são mesmo bem pequenas, mas já estive na Rússia, na Tunísia onde homens andam de dedinhos atados (aliás os argentinos se beijam na face) e em mais alguns países.
As diferenças culturais podem ser imensas, mas quando somos capazes de olhar para as pessoas além da cultura invariavelmente achamos humanos como nós.
Esse é um bom serviço que a comunicação cada vez mais globalizada está fazendo por nós: mostrar que somos uma única tribo em um território bem pequenininho e vulnerável.
Se vencermos a ilusão da percepção assimétrica podemos nos livrar do peso da tolerância e começar a desfrutar do prazer de admirar a diversidade.