Apareceu na minha Timeline: Passeata pede volta da escravidão no Brasil.

Todos sabem que essa matéria é uma ironia, né? Melhor garantir pq tem gente que acredita em tudo que lê e faz papel de ridículo.

Dito isso…

Resolvi aproveitar para rascunhar um monte de ideias que veem me cercando tem uns anos ;-)

A ironia é propícia. Ainda hoje compartilhei um artigo sobre como estudar as redes de ódio pelos seus reflexos no Facebook (se não achar na minha TL vai no bit.ly/clippingRoneyb) e faz muito tempo que me pergunto: para onde estamos indo?

Na verdade as pessoas me pagam para perguntar isso junto com elas e estabelecer alguma metodologia para ficar atentos aos movimentos dessa nossa civilização cada vez mais cyber.

Mas vou comentar rapidamente de graça pq compartilhar está na minha essência memética ;)

Tudo parece muito ruim…

Vemos até em amigos próximos a apologia à violência e à vingança como formas de atingir a paz e a justiça, vemos preconceitos de etnia, gênero e cultura encontrando eco, o medo e o ódio em relação ao outro também se infiltra em quase toda conversa, ataca-se abertamente o conceito de direitos humanos ao demonizar certas pessoas…

Características do fantasma do fascismo que parece ser um tipo de demônio que assombra nossa espécie.

A questão é: ele está lá para nos derrubar fazendo nossa civilização se extinguir em guerras entre irmãos ou para nos ajudar a ver como esses sentimentos são negros perversos e desumanos?

Nada disso é novo. Já vimos isso dezenas de vezes em outros períodos históricos e sempre conseguimos reagir ao demônio nos aproximando mais de Deus.

Sei que isso pode soar estranho saindo do teclado de um ateu e agnóstico, mas creio que, metáfora ou realidade, todos entenderão o que quero dizer. Só peço aos amigos que acreditam em Deuses que não levem muito literalmente o que estou dizendo, ok? Não estou sugerindo que, caso vocês estejam entre os que se alegram ao saber de um linchamento, que torcem pelo retorno da ditadura militar etc. estão condenados ao Inferno. Eu duvido que exista um inferno… Mas vocês estão sim a serviço de um tipo de demônio e, se realmente acreditam em Deus, devem observar a história passada e ver de que lado estão se colocando. Se a sua fé está correta você pode estar diante do pior futuro a que um ser vivo pode estar fadado…

O que acho que estamos vendo é mais um período em que as estruturas de poder e comunicação estabelecidas se tornaram obsoletas, mas ainda não foram estabelecidas novas.

É um período de caos em que o fascismo (ou o demônio se preferir) nos penetra através das frestas criadas por nosso medo e perplexidade diante do chão que some sob nossos pés.

A propósito é por pensar assim que não me afasto sumariamente de todos amigos que vejo contaminados pelo medo que leva ao ódio. Acredito que essa não é a essência de todos eles… Mas é claro que prefiro a companhia de pessoas que tem mais amor que ódio, né?

Já passamos por tudo isso antes.

Dessa vez é diferente. Pode ser o fim da nossa infância (sim, isso é uma referência a C. Clarke) pois nunca tanta gente esteve tão conectada, nunca fomos capazes de ver o Cosmos com a clareza que vemos hoje retirando praticamente todos (se não todos) os véus que criaram as bases das crenças antigas (de onde viemos, quem somos …)

Muita gente diz que é a mesma coisa de sempre. Não é. A gente sente isso nos ossos, percebe que estamos diante de algo inédito. Até mesmo a maioria dos que dizem que “nada mudou” denunciam em um leve tremor na voz, numa sutil escolha de palavras, que tem dúvidas.

É… Mas a gente sempre tem dúvidas quando olha para o mundo no meio da tempestade… Não dá para ver muito longe e, emocionados, nossa razão fica comprometida. Não somos Vulcanos (ainda pelo menos).

Só que o mais importante não é saber se é inédito, o importante é saber se estamos cedendo ao demônio ou se estamos abrindo nossos olhos diante da ameaça que ele representa e da forma que seduz outras pessoas, nossos amigos, pessoas públicas e… bem… A nós mesmas.

Quando olho para a nossa produção cultural (sim, incluindo beijinho no ombro e Big Brother) o que eu vejo é a perplexidade diante do ódio e não a sedução por ele.

No momento que as coisas acontecem nós fazemos e dizemos o que os demônios querem, mas lá no fundo a maioria de nós percebe que aqueles são sentimentos e ideias àcidas que nos corroem, que destroem o futuro e a pureza das nossas crianças.

A humanidade vai superar mais essa! Tenho quase certeza. Por fé, é verdade, mas também pela análise das evidências.

No entanto há um alerta a ser dado: o futuro nunca é garantido, em períodos de caos como esse as coisas se mexem como cabos de alta tensão partidos. A nossa falta de fé na humanidade age muito mais a favor do caos do que do amor. Aliás devia ser meio óbvio que o escárnio e desprezo pela humanidade alimentam ódio e não amor, mas não é… Por isso deixo esse alerta sussurrado em um texto longo demais para ser lido até aqui: ser bom é fácil, difícil é resistir ao mal…

Imagem: Orestes e as Fúrias