Tem tanta gente mais dedicada e mais lida do que eu falando em assuntos como este que normalmente nem tento falar neles aqui, mas desta vez acredito que tenho uma contribuição a dar.

A moda virou a vilã da anorexia, ela e as campanhas publicitárias que mostram modelos inalcançáveis. Ainda hoje mesmo vi uma revista Capricho falando que anorexia é doença e não estilo de vida, mas na contracapa vemos uma modelo macérrima. Afinal é doença ou é estilo de vida?

Fiquei pensando nessas contradições e percebi que, embora também seja responsável, a indústria da moda é apenas uma pequena parte do problema. Mas é aquela parte que está distante de todos nós o que nos livra de qualquer responsabilidade.

Sentamos na lanchonete comendo as duas mil calorias de batatas-fritas, frangos fritos e baldes de refrigerante para conversar com os amigos sobre o absurdo que os estilistas fazem levando as meninas à anorexia.

Então ligamos a tv e vemos a propaganda do remédio para emagrecer com várias moças magras dizendo o que fariam com alguns quilos a menos, a magia da garrafa de Coca-Cola no mundo mágico dentro da máquina, a cinta que nos esmaga para dar impressão de magreza, o guaraná sem nh? nh? nh? que podemos beber à vontade pois tem zero de açúcar.

Percebe que nossa cultura brinca de cabo de guerra conosco? De um lado nos grita “CONSUMA!!!!” de outro “PAREÇA LINDO!”

Para piorar somos levados a consumir o que não precisamos e buscar uma beleza que não é saudável e jamais será pois não está focada na saúde, mas na aparência.

Do jeito que estamos reagindo à anorexia vamos acabar atacando a magreza em prol da gordura e logo diminuirão os anoréxicos, os magros naturais serão ridicularizados e os gordos já numerosos (entre os quais me incluo) passarão a se orgulhar da sua “saúde”.

Ontem mesmo eu estava conversando com uma amiga (uma das pessoas mais sábias que conheço apesar dos tenros vinte e bem poucos anos) sobre as incoerências da nossa cultura. Individual e coletivamente. Acabamos falando em um tipo de retardamento moral, como em retardamento mental.

Tenho a impressão que nossa cultura anda moralmente obtusa, talvez por estarmos muito desligados; caminhando pela vida distraídos com as luzes e outros estímulos sem ver o outro logo ali do lado e nem mesmo nós mesmos já que ficamos vendo o que gostaríamos que os outros vissem em nós.

Isso ficou meio confuso! Desculpem! Tenho essa mania de me perder em reflexões no meio de uma ideia, mas só aqui no blog ou quando converso com gente mais inteligente que eu! :-)

O que eu ia dizer é que a anorexia é uma pequena parte de um problema bem mais vasto. Que a indústria da moda pode e deve fazer algo para melhorar as coisas, mas esse é um tratamento alopático que atua sobre sintomas da doença, mas não sobre suas causas.

Tem um livrinho pouco falado e ainda menos lido que se chama Alo Sr. Deus, aqui é Anna. Lá pelas tantas Anna diz que “É fácil saber a diferença entre uma pessoa e um anjo. A maior parte de um anjo está no lado de dentro e a maior parte de uma pessoa está no lado de fora“.

A gente está precisando questionar nossa sociedade e cultura do consumo (para fora) e pensar seriamente em uma nova sociedade e cultura do conhecimento. Sendo que cultura e conhecimento não são só para dentro, são para fora também pois, da forma como fazemos hoje, sempre é criação coletiva…