Fui tratar de coisas na rua e sentei brevemente em um café. Uma pausa entre… coisas.
Foram 4 anos à beira do terror e isso não é um exagero.
Em 2018 entrou no poder um especialista em matar (que cumpriu a promessa) e súdito de Olavo de Carvalho, que eu denunciava como fascista desde 2005 aqui mesmo no meu blog pessoal.
Naquela noite sentamos em nossa sala e choramos. muito.
Quando passou o choque inicial começamos a planejar o que fazer.
Sair do país? Era um alívio saber que essa era uma possibilidade. Por muitos meses nos mantivemos em estado de alerta e de olho em pessoas muito mais visadas que eu: um blogueiro nos subúrbios da Internet, mas com certas conexões. Se elas começassem a ter que se exilar nós faríamos o mesmo.
Quando começamos a perceber que não corríamos grande risco veio a pandemia, mas não sem antes sofrermos sucessivos golpes com desgraças feitas por um governo que disparava rumo a um projeto totalitário e pilhas de corrupções e estratégias de terrorismo informacional que abriam caminho para a destruição do tecido social, da sustentabilidade ambiental.
Nos dois primeiros anos da pandemia nos abrigamos nos privilégios do home office e dos sistemas de delivery que arrancavam a dignidade das pessoas. Viver no fio do conflito entre sobrevivência e a exploração dos outros é cortante, mas, claro, nem chega perto do que passava quem não tinha “privilégios” (que deviam ser direitos universais). Eu perguntava aos entregadores como estavam indo as coisas. “Já perdi seis amigos pra covid”. Ainda choro. Fiz o que estava ao meu alcance, mas foi pouco, foi nada.
Agora os demônios já não correm soltos pelos corredores da política, mas permanecem por lá nos assombrando.
Provavelmente estamos todes vivendo o estresse pós traumático… Na verdade o trauma nem se extinguiu ainda e seguimos pela vida lidando com eles: fakenews, parentes e amigues capturados por seitas online financiadas e mantidas… Bem, vamos torcer para que nossa sociedade consiga traçar os caminhos tortuosos desses engenheiros do caos.
Seja como for precisamos reservar momentos de singeleza dentro das nossas possibilidades e necessidades para que a nossa alma consiga preservar alguma energia, alguma luz.
Pode ser apreciar o nascer ou o por do Sol ouvindo uma música ou relembrando um momento especial e singelo em nossa memória, pode ser mergulhando no aqui e no agora do instante fora do passado e do futuro, desses que se perpetuam entre duas gotas de chuva.
Precisamos
Nos curar.