Antes das redes sociais era nos blogs que a gente comentava como vai o dia-a-dia. Não! Eu não me refiro ao dia-a-dia do querido diário, de contar sobre o primeiro beijo ou sobre a roupa que vimos na vitrine e pre-ci-sa-mos comprar (isso também), mas a como está o mundo à nossa volta.

Eu também acabei deixando as observações sobre o mundo para as redes sociais, talvez por ter a impressão que lá mais gente verá, mas isso é um erro. Lá mais conhecidos deixarão sinais de que viram (comentando ou reagindo). A grande verdade é que no blog a gente acaba atingindo mais gente e, mais importante para nós, podemos ver quem fomos no passado, o que vimos no passado e o que temíamos que viesse a acontecer.

O inverno está mais frio, me parece. Isso ou são as rajadas cortantes de desgoverno, desastres sociais, naturais, culturais, educacionais, “descivilizatórios” e outros tantos que a gente quer crer que são… culpa… não. A gente não acha que a culpa de tudo que está acontecendo é das corporações, dos grileiros (que estão a caminho de incendiar a Amazônia como nunca antes e com apoio do governo) ou mesmo dos políticos.

Quando olho para as duas massas de ar polares, as pessoas “de direita” e as “de esquerda” eu as vejo se culpando umas às outras.

Se buscar aqui no meu blog e até no canal no YouTube a gente vai encontrar post criticando o encanto das pessoas por mensagens que diziam basicamente que o povo tinha o governo que merecia.

Essas cartas sempre viralizaram, raramente os textos ou vídeos que mostravam que estavam erradas tinham um alcance até mesmo próximo.

Sempre convido as pessoas a questionarem suas impressões pessoais que lhes dizem que uma coisa nunca vai dar certo porque elas nunca a usariam, por exemplo.

Então tenho que pensar “será que não é impressão minha isso de que as pessoas culpam umas às outras pelo governo que temos”?

Olha… Pode ser, pode muito ser! Porque a gente que eu vejo é a gente que se manifesta online.

É bem verdade que antigamente apenas 1% das pessoas produziam, mas hoje todos produzimos nas redes sociais…

Todos mesmo?

O inverno parece mais frio, mas a Terra está aquecendo rapidamente e não notamos porque não estamos em toda parte ao mesmo tempo e nem em todo o tempo ao mesmo tempo para ver que era para estar mais frio esse ano ou que, somando tudo, está mais quente.

As redes sociais são outra grande miragem pois a verdade é que não estamos todos lá e quando estamos não nos sentimos livres para falar porque os ânimos se acirram com requintes de crueldade.

Só sei que sinto frio.

Sempre senti um certo frio porque sempre tive esse impulso de afastar gentilmente minhas emoções para o lado antes de pensar melhor sobre as coisas e, assim, frequentemente não encontro eco nem entre os amigos mais próximos.

É… Os amigos mais próximos também acham que a humanidade merece, que a humanidade é podre, mas…

Pera aí! Você que me conhece e tá lendo isso! Nem venha pensar que estou me referindo a você ou te criticando! A sua visão é a visão do nosso tempo e fazer parte do nosso tempo é essencial! Assim como alguns de nós temos que ser os eternos desajustados que estão um pouco no futuro, um pouco no passado ou, muitas vezes, um pouco em uma realidade paralela que não passa de um delírio.

O frio que vem dos amigos é do da minha preocupação com as minhas amizades que avisam que não estão bem, que estão sofrendo, que não estão se conhecendo mais, que os outros não as estão entendendo, que estão sós no meio da multidão.

Estamos todos com frio e a ameaça do Brasil se tornar um deserto nas mãos gananciosas (e estúpidas) de exploradores da vida que destroem a vida só aumenta o frio.

Afinal são tantas ameaças, tantas indignações, tantos absurdos, desrespeitos, violências, humilhações e outros monstros que parecem se multiplicar enquanto a caixa de Pandora se escancara inescrupulosamente que já não conseguimos receber o fluxo de informação e estamos num tipo de colapso cognitivo em que tudo pode ser real, a Terra plana, o fascismo retornando no mundo, a URSAL, a fidelidade inabalável dos bolsomínions…

Eu só queria encontrar o agasalho mágico capaz de me proteger desse frio, que ajude os amigos a sobreviver às rajadas infames de gelo cortante.