Creio que já comentei aqui que tenho atração pelas passagens escuras das cidades. Vielas, corredores estreitos e áreas escuras e vazias são como parques para mim.
Por trás disso tem uma longa reflexão sobre como os séculos se encontram nesses vazios e como os véus de ilusão se rasgam revelando a realidade nua e crua, mas falo disso em outra ocasião. A questão aqui é a realidade nua e crua…
E lá existe isso de realidade? Não é certo que cada um de nós enxerga o mundo que deseja? Que temos vários estratos de percepção, filosóficos e culturais que são como água e óleo que jamais se misturam?
Temos os grupos que enxergam apenas o conflito entre capitalismo e comunismo, os que reduzem tudo à injustiça social, outros que combatem as corporações como monstros do presente. Ligamos a televisão e todos se preocupam com o sexo e a violência que ela mostra, mas quase ninguém observa-a sob a ótica da sociedade do espetáculo de Guy Debord.
Minha experiência nos becos escuros me ensinou que a realidade realmente se curva à nossa percepção e nos permite viver enclausurados em nossas “Matrix” pessoais, no entanto as outras realidades estão lá e, se queremos tomar as rédeas do nosso desenvolvimento, precisamos aprender a enxergá-las.