No pós-guerra todos temiam o fim de tudo que a humanidade pode representar. A Voyager foi lançada ao infinito com uma placa de ouro com finos traços descrevendo um pouco do que somos. Em alguns lugares foram enterrados grandes cilindros herméticos contendo cartas, vídeos e livros entre outras preciosidades. Passou o tempo e nos esquecemos outra vez que quase tudo termina, ninguém mais lembra dos tais cilindros e a Voyager provavelmente jamais será encontrada.
Enquanto isso o velhinho de pernas tortas, passos inseguros, longas rugas e olhos vivazes atravessa a rua em obras. Entre a rede plástica laranja, os carros impacientes e os montes de terra aquele pequeno fragmento do passado segue desapercebido. A calça de tecido fino, presa por um cinto preto e ainda assim ameaçando cair. A cada passo aqueles pés parecem relembrar a grande avenida quando paralelepípedos a cobriam, os pedestres andavam de chapéu e as mulheres se cobriam de vestidos quentes apesar do calor do Rio.