Atrás de mim a livraria da Travessa de Botafogo.
No mezanino meus amigos, dois casais e minha esposa, conversam animadamente no aconchego do ambiente coberto de celulose e muito conhecimento e devaneios registrados nela.
Não resisto e saio caminhando entre os livros, refletindo.
Há tempos visito livrarias porque ainda não conheço outro meio melhor de descobrir obras.
Passei por lá por How to be Human, A Garota do Casaco Azul (sobre a ocupação nazista em Amsterdam) e A Era do Capital Improdutivo (finalmente um livro sobre isso!), mas era em outras coisas que eu pensava.
Primeiro em como são importantes as pessoas que organizam as livrarias, depois como as próprias livrarias são importantes, mas eu posso estar ajudando a queimá-las.
Faz tempo que não compro livro de papel… Tenho preferido os digitais e não vou me estender nisso porque não é a questão, a questão é o fim das coisas, as Alexandrias que são queimadas.
Claro que existe um incendiário muito maior.
Não… Não é o atual governo do Brasil, adorador de odiadores do conhecimento e da cultura, muito embora certamente esse governo seja agente de destruição, dessa e muitas outras.
O que ameaça nossas Alexandrias tão pouco é a Amazon e sua vasta experiência de compra e nem mesmo as Netflix da vida que concorrem com a leitura oferecendo entretenimento muito mais fácil (não pense no entanto que elas oferecem artes menores ou menos críticas).
O monstro é o nosso medo do da mudança.
Ontem mesmo falava mais uma vez sobre isso com uma amiga. Tradutora. Pessoas tradutoras são pessoas incríveis, como dizia Saramago… Autoras cria cultura, tradutoras criam a cultura mundial. Ou algo assim. Busque a citação.
Nosso mundo está em transformação febril e transformação dá medo. Dá pânico se for grande demais e… preciso dizer que o mundo está mudando mais rápido do que somos capazes de absorver e menos ainda de entender?
É curioso que, na forma de séries e filmes, nós parecemos lidar melhor com essas transformações, talvez porque fica mais fácil humanizar o diferente, de Stranger Things aos momentos Dark Mirror.
Enfim… Os livros no entanto oferecem uma imersão profunda e temos fugido deles com medo das mudanças que podem nos provocar, das mudanças que podem nos mostrar.
Só sei que alguma coisa tem que ser feita. Essas Alexandrias precisam ser respeitadas, protegidas e preservadas. Elas e as pessoas que lhes dão vida, os livreiros.