As luzes da cidade não passam de reflexos pálidos na janela. A lâmpada do corredor derrama um véu de claridade às minhas costas… Inspiro… Vazio… Expiro… Vazio… Minha mente mergulha nos tons do espectro ultra-violeta, para o lado oposto à agitação do dia… A velocidade da cidade que se engendra em meus músculos e tendões… Vazio…

Mar… O som do mar é uma fantasmagoria em meus ouvidos, uma tentativa da mente em busca de estímulo… Aceito e… Vazio… Expira…

Minha consciência se desliga do corpo… Vazio… Flutuo pelo Cosmos e então já não há mais Cosmos… Vazio… Um aniversário essa semana… Bons amigos, sorrisos, abraços, carinho… Aceito e deixo ir… Vazio…

Uma brisa… Meu cabelo acariciado pelos elementos, pela suavidade do ar… Sorrio… Aceito… Deixo ir… Vazio…

Quanto tempo passou? Estou perdendo tempo? Tempo… Tempo… Tempo! Sinto o coração se expandindo e contraindo no peito… Aceito… Sinto… Deixo ir… Não vai… Lembro que o dia acabou… O tempo agora me pertence e é infinito… Imagens do dia me perturbam… Se repetirão… Mas agora o tempo me pertence e é infinito… Aceito… Deixo ir… Vazio…

Inspiro… Expiro… Oummmm… vazio… Oummmmm… vazio… vazio… Oummmmmm…. vazio… vazio… vazio…

A consciência se dissolve, já não sinto a bruma que circula, sou a bruma que circula, ela não me perturba, ela me embala… vazio… Luz… Intensa… Vasta… Infinita… Circula pelo meu corpo… Brilho como a prata… Reflito como cristal… Aceito… vazio… Me preencho do vazio e no vazio me encontro sem contornos, infinita…

Créditos da imagem: Cyn Cardoso