Vincent, um santo perturbado, um artista santificado, um homem angustiado. Impossível não se surpreender e emocionar com uma vida tão impressionante e vasta.

Cheguei ainda há pouco do teatro do Jockey onde está em cartaz “Van Gogh, O Amarelo Aumenta todos os Dias” Com Carolina Kasting e Maurício Grecco.

Descobri que não sabia nada sobre Van Gogh e, certamente, passarei a olhar para suas obras com novos olhos buscando o enfurecido espírito religioso que o consumiu até finalmente levá-lo ao fim.

A peça tem uma estrutura bem seca, opta por dar vida às palavras de Van Gogh (interpretadas pelo casal de atores, mas como se fosse um monólogo) sem cores, sem imagens e despidas da intensidade que o pintor certamente carregava como se fosse um punhal permanentemente cravado no próprio peito.

O resultado talvez seja monótono para muitos espectadores, mas o texto é bem escrito chegando a transpirar intensidade em certos trechos e consegue construir a imagem de um Van Gogh com a complexidade e a febril dedicação que ele merece.

Eu preferiria uma atuação mais intensa e cenografia mais rica, creio que tornaria o espetáculo mais acessível ao grande público, mas entendo a opção pela estética e atuação quase claustrofóbicas que refletem, afinal de contas, uma personalidade presa fora do espírito da própria época.

No entanto o que mais me incomodou foi meu próprio desconhecimento da história de Van Gogh. Ler a Wikipedia e visitar o museu de Van Gogh não é o bastante, mas já é um começo.

Van Gogh se agarrou à alma e a alma sem Van Gogh acaba vazia, triste, sem destino. Em tempos sem alma ele pode ser o verbo de ligação entre a acomodação e a perturbação que nos coloca em movimento. 

Serviço:
Teatro do Jockey. Rua Mario Ribeiro 410, Gávea (2540-9853). Sex e sáb, às 21h. Dom, às 20h. R$ 25. 12 anos.

Até 29 de abril.

Imagem: Mineiros na neve – Van Gogh – 1880