Sobre o projeto

Esse é o décimo sexto conto do projeto #UmSábadoUmConto (Post explicando o projeto)

Durante a semana as pessoas votam em estilo, gênero, público e época. O autor (eu) só pode saber o resultado às 8h do sábado e tem até meio dia (mais ou menos) para terminar o conto.

O que você vê a seguir é o conto com a mínima revisão. Você pode ler sem revisão no iCloud.

O Conto

Se você está lendo esse texto e nunca ouviu falar de SCION, pessoas com poderes não naturais, se Oxford na Inglaterra é uma cidade como qualquer outra e, principalmente, se você nunca ouviu falar em Rephains e Emins então tenho boas e más notícias.

As boas notícias são: meu experimento funcionou e pude enviar esse documento para uma realidade paralela e você vive em um mundo seguro e tranquilo. A má notícia é que há uma ligação entre nossos mundos.

O que você lerá a seguir começa em Oxford em 1859 poucos meses atrás. O Natal esse ano será o primeiro de muitos repletos de dor, escravidão e desespero.

Sou John Steinback, físico teórico na Universidade de Oxford. Eu sou responsável pelo flagelo da humanidade.

Minha esposa e meus filhos já haviam se acostumado com a minha ausência trabalhando até tarde em meu laboratório. Os mistérios do Universo esperaram eras para serem desvendados, mas conforme nos aproximamos das chaves que destravam seus segredos mais profundos não podemos perder mais tempo! E eu sentia que estava às portas de algo totalmente novo.

Apenas Mary e Olson, meus criados, me acompanhavam nessas jornadas noturnas auxiliando-me não só preparando chás, café e bolos, mas providenciando os instrumentos de metal e lentes que projeto.

Com o óculos de lentes sobrepostas que inventei sou capaz de observar nuances no ar que, do contrário, seriam invisíveis. As lentes são tratadas com resinas e pigmentos de ervas especiais.

Foi com esses óculos que notei pela primeira vez algo realmente novo. Uma perturbação ao redor de Mary. Como ondas de calor, uma aura de ondas. No entanto são frias e diminuem a temperatura do ambiente ao redor dela, mas apenas quando ela tem medo.

Depois que descobri isso Mary se tornou também minha cobaia. As mulheres se assustam facilmente e a mera leitura de Edgar Allan Poe, falecido há cerca de 10 anos, bastava para colocá-la naquele estado.

Por vezes pensávamos ouvir ruídos, como gelo se quebrando em algum lugar ao longe ou o zumbido de insetos.

A pele ou o corpo de Mary mantinham sua temperatura normal, mas termômetros fixados ao seu redor mostravam quedas de até 10 graus na temperatura o que realmente não fazia o menor sentido. Algo teria que absorver o calor para isso acontecer, mas o quê?

Foi então que percebi que a única explicação seria algum tipo de passagem que nós não podíamos ver e me lembrei dos estudos de Newton e da polarização da luz.

O relojoeiro disse que o dispositivo seria impossível, mas à custa de uma alta soma, conseguimos construir discos sobrepostos com finos fios de ouro que me permitem separar cada faixa de luz polarizada e foi quando pude ver…

Ao redor de Mary, quando ela tinha medo, surgiam rachaduras no ar. Esse é o único termo que me ocorre, é como uma fina camada de gelo sobre o lago que se racha quando pisamos nela.

Arranquei os pavilhões de todos os gramofones que pude encontrar e passei a posicioná-los próximos às rachaduras.

Já não era mais necessário assustar Mary. Quando a sentávamos na cadeira cercada por termômetros e amplificadores de som ela já manifestava sua capacidade não natural.

Foi Olson que sugeriu chamar de não natural e hoje eu me rendo ao termo pois não posso conceber que o que testemunhamos faça parte das leis da natureza. Não é algo meramente artificial ou acima do natural. É algo que transcende nosso Universo, mas estou me adiantando.

Obviamente eu precisava descobrir o que havia do outro lado das rachaduras que absorvia o calor do ambiente, mas logo descobri que na verdade ela emanava vapores frios, como algum tipo de gás, mas que assume colorações diversas no espectro ultra-violeta quando é olhado com a lente adequada e longe da luz do sol. Sim, tudo que emana das fendas rejeita a radiação solar, mas estou me adiantando novamente.

Olson era um bom homem. No entanto era um rude, sem a instrução a que tive acesso e sem a educação serviçal que moldou o caráter de Mary. Apesar de considerar a criada uma boa pessoa ele, aos poucos, foi sendo envolvido pelo medo da sua capacidade não natural. Em sua mente simples o que não era da natureza então não era de Deus.

Sabendo que eu jamais permitiria tal coisa ele atraiu Mary para o laboratório e me ludibriou a voltar para minha propriedade – distante uma hora de Oxford – para cuidar da minha esposa que estaria com uma febre repentina. Duas horas seriam mais do que o suficiente para ele executar seu plano.

Enquanto eu ia para a minha casa, descobria o engodo e voltava fazendo com que os cavalos usassem todo o fôlego de seus pulmões, ele amarrava Mary e recebia três exorcistas para tentar livrá-la do demônio que ele achava estar se apossando dela.

Esse é o relato que Mary fez para mim quando finalmente cheguei ao lugar e tudo já estava perdido…

“Quando entrei na sala com a bandeja de prata com chá e bolo para o senhor dois homens agarraram meus braços fazendo com que o belo bule se espatifasse no chão. Meu primeiro pensamento foi a tristeza da perda daquele lindo e delicado bule de chá, mas a violência com que os homens apertavam meus braços logo me trouxeram para a realidade.

Enquanto eles me arrastavam para a cadeira eu me debatia, mas não pude gritar por socorro porque alguém encheu minha boca com estopa. Eu chorava senhor, chorava pensando que eles pretendiam me desonrar… Antes fosse… Antes fosse… Nós mulheres somos desonradas o tempo todo, mas raramente somos levadas ao inferno.

Quando me amarraram à cadeira derrubando seus delicados instrumentos eu vi Olson escondido nas sombras, eu o vi claramente como se fosse dia! é como se eu visse uma outra luz dentro do laboratório e foi quando percebi que ela vinha de trás de mim. Tentei virar a cabeça o melhor que pude e vi as rachaduras que o senhor descrevia, eu nunca as tinha visto antes. Mas agora tinham quase um palmo de largura e emanavam essa luz que, pelo jeito, somente eu via.

Um quarto homem, além do Olson e dos outros dois que me prenderam à cadeira e agora permaneciam ao lado dela, começou a aspergir água sobre mim, provavelmente água benta, mas não me acalmei pois ele recitava palavras horríveis em latim, ameaças cheias de ódio e ele me sufocava senhor! Colocava sua grande mão sobre meu rosto tapando meu nariz e minha boca cheia de estopa de forma que eu não conseguia respirar.

Por várias vezes minha visão me abandonou e nem mesmo a luz das fendas chegava aos meus olhos. Até que, depois do que me pareceu mais de uma hora, eu me senti repentinamente leve. Me surpreendi ao ser capaz de me levantar da cadeira!

Quando olhei para trás vi que eu ainda estava lá. O homem ainda segurava meu rosto me impedindo de respirar e as fendas agora eram tão numerosas que quase se uniam em um grande arco ao meu redor, como as auréolas dos santos, mas envolvendo todo o meu corpo com uma energia que me assustava, senhor.

Sem saber o que fazer, querendo me livrar daquele homem, eu tentei agarrar a cabeça dele e puxá-lo para longe do meu corpo.

Quando fiz isso senti meus dedos atravessarem sua carne. Era como enfiar os dedos em carne moída, senhor. O berro dele atravessou a sala chegando até mim como um grito dentro da água, mas continuei enterrando meus dedos através da sua cabeça, Deus me perdoe! Eu estava desesperada! Quando percebi que eu estava puxando alguma coisa além da sua carne, senhor… – Ela começou a soluçar e a chorar enfiando o rosto entre as mãos – eu percebi que estava puxando o espírito dele para fora do corpo, senhor! Ele tirou as mãos do meu rosto para segurar a própria cabeça e pude respirar novamente! Fui puxada de volta para meu corpo! Presa novamente na cadeira! Minha alma desabou nesse momento senhor – Ela fala entre lágrimas e soluços descontrolados – o desespero tomou conta de mim! Presa novamente! O homem diante de mim sentado sobre as próprias pernas babando e com o olhar distante de quem perdeu a razão, os outros dois puxavam facas de suas botas, eles iam me matar!

Algo quebrou atrás de mim, mas acho que só eu ouvi porque os homens avançavam em minha direção com as facas em punho. No segundo seguinte me senti cercada por um enxame de moscas, o zumbido era ensurdecedor! Elas eram uma nuvem em torno de alguma coisa que veio de trás de mim, das fendas, senhor!

O primeiro homem foi acertado em cheio por aquilo. Eu escutei o ruído de ossos se quebrando e um grito abafado seguido pelo som de alguém se afogando… A coisa saiu de cima dele e vi que ele se afogava no próprio sangue. Sua garganta aberta, seu rosto terrivelmente deformado, seus braços e pernas estavam torcidos em posições impossíveis, a mão que segurava a faca estava faltando… Ela sumiu senhor.

O segundo homem tentava correr para a porta, mas logo foi alcançado. Vi suas costas se curvarem quando ele foi atingido pouco acima de cintura. O estalo terrível e o ângulo em que ela ficou provocaram uma onda de pavor em mim! Logo eu seria a próxima!

A criatura se deteve no segundo homem e percebi que alguma coisa estava soltando minhas mãos. Olhei para o lado e era Olsen com seus óculos, senhor. Ele suava e sussurrava “perdão… perdão…” choramingando como uma criança, senhor.

Ele me soltou e corri para me trancar no armário de ferro onde o senhor me encontrou ao chegar. Passei pelo homem que eu tornei demente. Ele ainda vivia, mas sua mente estava destruída. Eu não sou diferente daquele monstro que saiu das fendas, senhor…

Antes de me trancar no armário vi a última coisa, senhor. Um homem… Uma coisa que parecia um homem. Devia ter mais de dois metros de altura, seus olhos brilhavam, sua pele era dourada e ele disse com uma voz poderosa “EMIM” e isso atraiu a criatura que se virou e partiu para cima dele se apoiando em Olsen para saltar, acho que foi quando o pobre Olsen, que Deus o tenha, não tenho raiva dele, foi quando ele deve ter morrido, senhor.”

Quando cheguei ao laboratório, cerca de uma hora depois, encontrei tudo destruído. Olsen morto com o pescoço quebrado ainda usando meus óculos especiais regulados para ver uma determinada polarização com uma lente que amplifica os comprimentos ultra-violeta.

Coloquei os óculos e não precisei procurar muito. Onde antes havia fendas estava um grande círculo irregular luminoso, como se o tecido do Universo tivesse se rasgado totalmente. Sem os óculos o laboratório estava mergulhado na escuridão e sentia-se apenas um vento frio, mas com eles a passagem era clara, entretanto não era apenas isso. Havia brumas luminosas por toda a sala, traços de alguma coisa no chão e, num canto da sala, uma emanação, como o vapor que deixa o nosso corpo depois de um banho quente em um dia de inverno. Tinha alguma coisa naquele canto.

Ouvi o choro abafado de Mary e a encontrei no armário, mas não tirei os olhos do canto escuro até mesmo visto através dos óculos.

Ela saiu e me abraçou desesperada. Eu lhe disse para sair lentamente da sala e ela, boa moça, me obedeceu seguindo cautelosamente.

Mesmo sem os óculos eu podia ver que havia alguma coisa no canto do laboratório. Não via as emanações de vapor violeta, mas vi uma grande massa escura.

Encontrei um lampião intacto e iluminei o objeto imprudentemente, sem buscar uma arma.

Há experiências que nossos olhos não estão prontos para ter e, num primeiro instante, eles não conseguem identificar as formas do que está diante deles. Foi o que ocorreu comigo naquele momento. Minha mente científica não estava preparada para aquilo e vi uma pilha de ossos, espinhos e fui capturado pelo odor de podridão.

Demorei quase um minuto para conseguir identificar que estava olhando para duas criaturas: algo disforme vertendo um sangue negro e um ser humanóide sob a criatura, sangrando algo que exalava vapores violeta, os vapores que vi com os óculos especiais.

Os corpos de três homens me cercavam, dois desconhecidos e Olsen. Ainda sentado sobre as pernas e com o olhar morto havia um padre… O homem jamais se recuperou e morreu poucos meses depois sem causas aparentes, simplesmente desistiu de estar vivo.

– Diga que morri por alguém que vale a pena… – A voz fraca, quase um suspiro, vinha do humanoide.

– Você ainda não está morto, amigo.

– Em breve…

Sua voz não tinha entonação. Era grave e segura apesar de quase inaudível. Como se ele não se importasse, como se estivesse apenas anunciando um fato corriqueiro: seu café está na mesa, senhor. Não sei se é indiferença ou se eles consideram o mundo tão desprezível que não merece suas emoções.

A criatura estava morta, aquele ser matou com as mãos nuas a fera mais monstruosa que eu havia visto até então.

– Sou John, sou um membro da raça humana. E você?

– Arcturus. Rephaim… Humana? Chegue mais perto…

Quando me aproximei senti algo diferente, minhas forças me abandonando lentamente, meu nariz sangrou…

– Fraco demais… Efêmero demais… É inútil…

Eu não sabia se Arcturos falava de si mesmo ou de mim, mas isso logo ficaria claro pois Mary, pobre Mary… Ela vinha correndo atrás de mim com a bandeja em punho.

– Senhor! Venha para cá! Essas coisas não podem ser naturais!

Os olhos de Arcturus se voltaram para ela e seu brilho mudou de cor, suas forças começaram a voltar. Era de mim que ele estava falando antes! Eu era fraco demais para que ele pudesse se alimentar de mim e agora estava se alimentando de Mary.

Olho para trás e a vejo cambalear e se apoiar na parede.

– Pare, por favor! Deve haver outra forma! – Eu imploro consciente de que estou diante de algum ser que não compreendo. Antigo, orgulhoso e poderoso.

– A fêmea viverá. A fenda. Virão outros emins e eles terão fome… Virão outros Rephaim e eles serão piores.

Me aproximo de Mary e a tomo nos braços acalmando-a. Digo que ficará tudo bem. Ela olha para Arcturos e para a fenda alternadamente.

Ele se levanta com dificuldade e caminha apoiando-se nas paredes e pilastras.

– Esse lugar precisa ser isolado ou seu mundo será destruído. Temos pouco tempo. Por ora a passagem está bloqueada, mas logo se abrirá novamente. Outras virão espontaneamente agora que uma já foi aberta. O que produziu isso?

– Minha pesquisa Arcturus. Errr… Mary tem essa capacidade de causar rachaduras no tecido do Universo quando está com medo e hoje ela… Bem, ela foi atacada, levada ao desespero.

Arcturus estava fraco demais. Apagou no meio do meu laboratório. Nós providenciamos uma cama e tratamos das suas feridas.

Sem saber sobre a fisiologia dos Rephaim nós apenas limpávamos seus ferimentos. Ele se alimentava quase inconscientemente de Mary, era possível ver a mudança no brilho dos seus olhos mesmo com as pálpebras fechadas.

Os Rephaim não são feitos do mesmo tipo de matéria que nós, talvez nem sejam realmente feitos de matéria, mas nos momentos em que ele acordava nos três dias que demorou para se recuperar descobrimos ervas e alimentos que lhe serviam muito bem.

Desconfio que os Rephaim já tiveram outros contatos com o nosso mundo. Nosso hóspede não nos contava muito sobre seu mundo ou sobre sua própria história, mas sinto que ele tem algum tipo de carinho pelos humanos.

Lembro repetidas vezes de Prometeus quando converso com Arcturus, mas talvez nós estejamos mais para Perséfone aos olhos dos Rephaim.

Mandei construir um cofre reforçado ao redor da fenda e, no terceiro dia, começamos a ouvir ruídos vindos de dentro dele. Jamais o abri, mas foi então que começaram os assassinatos. Na verdade eram ataques.

Outras passagens realmente deviam estar se abrindo e outros emins começavam a se espalhar por Oxford.

No sexto dia Arcturus mandou Mary me chamar e me disse que não poderíamos mais esperar, mas que ele não poderia fazer nada sozinho. Que trazer os outros era a única forma.

Arcturus devia sentir dores ainda, mas se levantou e me fez levá-lo para um grande auditório. Teria que ser um lugar com alguma dignidade, foi o que ele disse.

Chegando lá ele fez um corte na própria mão e deixou seu sangue verter sobre o palco dando seis passos para trás em seguida.

Mesmo sem os óculos eu pude ver uma passagem oval se formar e dela saíram outros seis seres como ele, mas alguns com pele oliva, outros com tom lilás. O sol tinha acabado de se por.

A líder deles era uma fêmea tão alta quanto Arcturus. Nashira.

Mary não participou, Arcturus disse que seus convidados jamais deveriam ver uma Caminhante Onírica e que Mary era uma rara vidente com essa capacidade, mesmo entre eles, os Rephaim.

Já eram dezenas as mortes provocadas por emins em Oxford, alguns casos já surgiam em regiões próximas.

Nashira e seus asseclas se dirigiram a Londres para “negociar” com a Rainha enquanto outros vinham pela passagem e começavam a transformar Oxford em alguma outra coisa. Ao mesmo tempo um tipo de prisão e um “farol” para emins conforme percebi pela movimentação dos Rephaim.

Percebendo o perigo, mandei que Mary entrasse na minha carruagem, fosse pegar minha família e fugisse com eles para a Irlanda e fiquei para trás para tentar registrar os fatos e alertar outros mundos, pois se eles chegaram aqui podem chegar a outros.

Os emins são feras aparentemente irracionais, mas desconfio que essa não é toda a verdade. Os Rephaim não escondem seu desprezo por nós, humanos, mas se regalam com a presença dos nossos videntes e se apresentam como seres imortais e invulneráveis. Contudo, dado nosso primeiro encontro com Arcturus me parece que essa não é bem a verdade.

Notei no entanto que Arcturus nunca deixou que os outros soubessem que eu tinha conhecimento da vulnerabilidade deles. Creio que do contrário eu seria morto.

Nosso mundo, poucos meses depois, se rendeu ao controle dos Rephaim. Eles responsabilizaram os videntes como Mary por todos os males da Terra e se ofereceram “magnanimamente” para contá-los e corrigi-los.

Eu fiquei em Oxford enquanto ela era separada do mundo e sei que os humanos aqui são escravos.

Será que precisamos ser defendidos mais dos emin do que dos rephaim?

Existem outros como Arcturus que não concordam com a escravidão do nosso povo, mas eles são poucos e não tem poder sobre seus líderes.

A ciência que rege os poderes dos videntes e dos seres que vem do mundo de Arcturus é certamente a mesma, algo que transcende os universos, que existe acima deles e que, infelizmente, está muito além da ciência moderna.

No entanto suspeito que os diversos mundos existam em linhas de tempo diferentes. Talvez o mundo de Arcturus seja como o passado do nosso e o seu pode ser em nosso futuro. Talvez vocês tenham máquinas voadoras e possam explorar o Universo de formas que nossos instrumentos não podem e nós mal sonhamos. Para outros mundos pode haver esperança, pode não ter acontecido ainda o primeiro contato ou apenas contatos efêmeros.

Esses seres não podem se manter em nosso mundo se não houver uma certa quantidade de passagens, se eles não puderem se alimentar do que chamei de energia escura pois não é detectada por nenhum dos nossos instrumentos, sendo percebida apenas pelos efeitos que causa no mundo físico.

Não tenho muito tempo. Carreguei eletricamente o cofre ao redor da primeira fenda. Notei que isso muda sua sintonia e preparei várias cópias dessa mensagem que estou mandando para cada frequência diferente para tentar alertar outros para os perigos que estão tão próximos quanto a ponta do seu nariz, para a existência de humanos com capacidades não naturais, ou desnaturais como as pessoas passaram a chamar depois que a Rainha fez seu pronunciamento declarando a consolidação do estado independente de SCION controlado pelos Rephaim.

Não tenho notícias de Mary e da minha família, não posso correr esse risco. Só posso esperar que eles estejam seguros na Irlanda.

Ao ler esse relato você pode achar que está apenas lendo uma obra de fantasia, mas preste atenção em lufadas de vento frio repentinas, no curso dos seus próprios pensamentos, algumas vezes você parece ter pensamentos que não são seus? Sonha com pessoas que vem a conhecer depois? Tem crises de profundo sono e ao acordar descobre que alguém próximo faleceu enquanto você dormia (o mito das valquírias existe também em seu mundo?), você costuma ter intuições que se concretizam? Você pode ser um vidente… Você pode ser o alvo deles.

O processo criativo

Até o décimo quarto conto eu seguia uma “fórmula” criativa para cada conto. Achei que seria interessante para o leitor interessado em como funciona o processo criativo, mas era uma coisa artificial, né?

Essa fase acabou e agora entro em outra mais livre! Ufa!

Vou descobrindo junto com os leitores as melhores formas de compartilhar o processo criativo agora que posso deixar a mente solta. Esse é um dos objetivos principais dessa segunda fase (além de escrever que é algo que me faz muito bem!!)

Bem, são 8h06 e estou pronto para escrever. Vamos ver o resultado dos votos.

Hahahahaha! Zero votos!! Eu imaginei que isso poderia acontecer nessa época de festas :-)

Gente!!! Deu bug na planilha do Google! Ou eu configurei errado! Tem votos sim!! Pior que demorei meia hora para me tocar e ir ver de novo. Vou respeitar os votos, claro! Só que vou ter que correr! Vou deixar o que escrevi achando que não tinha votos aí embaixo, ok?

[Escrito achando que não tinha votos…]

Isso quer dizer que hoje estou livre. Posso escrever qualquer coisa.

As opções são:

  • Tema: Terror, Romance, Aventura ou Suspense
  • Público: Infantil, jovem ou adulto
  • Gênero: Scifi, fantasia, realista
  • Época: Passado, presente ou futuro

Engraçado. Acostumei a me dizerem o que escrever e agora notei que, de certa forma, é cômodo.

Vejamos. Vou escolher algo que escrevo com mais facilidade (terror, fantasia, suspense)… Não… Quero fazer algo mais realista, já que estou livre vou escrever algo que gosto de ler: histórias reais de pessoas reais e vivendo as questões que todos nós vivemos diariamente.

A gente vive uma época em que a fantasia tem sido mais consumida. Seja no cinema, seja nos livros. Talvez seja uma característica de tempos em que estamos muito insatisfeitos com o presente… Nem acho isso justo!

O início do século XXI tem sido simplesmente incrível! Temos avanços em tudo! As pessoas se relacionam mais graças à transformação dos computadores e celulares em instrumentos de conexão de grupos de pessoas. Nem precisa falar em ciência e tecnologia, né? A miséria diminui no planeta todo. As mulheres cada dia são mais respeitadas (ainda que “mais respeitada” em alguns lugares ainda fique longe de respeito de verdade). A comunidade científica chegou a um consenso sobre a seriedade da nossa influência no clima do planeta e as mentes mais competentes da nossa civilização estão engajadas em achar soluções. A sociedade desabrocha de várias formas…

Ok. Não quero parecer um deslumbrado porque não sou e deslumbramento é péssimo como filosofia de vida, mas acho uma pena que a gente tenha vergonha do presente quando ele não e motivo para vergonha apesar de todos os problemas que, se você pensar bem, nos incomodam tanto justamente porque não queremos mais carregá-los conosco.

Bem, essas reflexões são importantes para a gente sintonizar as ideias nos temas que podem dar algum significado para o que vamos escrever. Uma história não pode ser apenas um relato do tipo “Fulano foi à padaria comprar pão, conversou isso e aquilo sobre o jogo de vôlei com o balconista e foi para casa mancando porque deu uma topada quando acordou”.

Vixe, 8h28! A gente se perde em pensamentos, né?

Ainda não fiz nenhum conto com personagens parecidos comigo. Na faixa dos 50 anos. Uma geração (década de 60 do século passado) que não achou muito bem seu lugar (tenho vários amigos que até hoje não tem uma profissão muito certa… Eu mesmo não tenho) tanto profissionalmente quanto na história da sociedade.

É difícil escrever sobre realidades (visões da realidade, claro) tão próximas da nossa porque é muita exposição, né? Mas deu vontade e na verdade essa coisa toda de privacidade é super-estimada.

Então vamos lá: um romance realista adulto no presente.

Um homem de uns 50 anos. Casado com uma grande amiga. Não preciso perder tempo falando sobre o trabalho dele, basta mostrar que, como muitos da geração dele, vive de várias habilidades que acumulou durante os anos.

Estou pensando em um clima intimista, quero dizer, enquanto escrevo as imagens que me surgem são de dois ou quatro amigos caminhando à beira da praia, parando em algum lugar para tomar um suco e comer um sanduíche e conversando muito sobre a vida, o Universo e tudo o mais.

Uma história sem aventura, sem suspense, sem conflitos…

[Fim do que escrevi achando que não tinha votos…]

A votação foi cheia de empates!

  • Terror e aventura
  • Passado e Presente
  • Jovem
  • Scifi

Ok, não foi cheia, foram só dois :-)

Vou fazer com tudo.

Teve a sugestão de fazer algo meio steampunk e, além de adorar steampunk, estou justamente acabando de ler The Bone Season que transita por um futuro pouco scifi, é jovem, tem um ambiente meio steampunk passando pelo presente e pelo futuro e é bom para terror e aventura.

Só que uma fanfic de um universo que quase ninguém leu não me dá a vantagem de não precisar contextualizar então ele será só… fonte… de… inspiração… Tive uma ideia!

Vou fazer uma fanfic apresentando esse universo que achei tão original e bem escrito.

O conto começa em 1859 então…

[8h52] Preciso me alimentar hehehe! Senão não consigo correr com o conto que vai ser meio apertado. Vou comer algo enquanto junto as pontas do que vou escrever. [9h10]

Pronto! Uma vez alimentado fica mais fácil pensar! Fui só ver se a versão na nuvem está sendo atualizada direitinho.

Observações

Fiquei bem insatisfeito com o ritmo no final. Perdi totalmente a tensão dramática e não consegui substituir por ação para segurar um bom ritmo.

Poderia me justificar alegando que estou fazendo uma fanfic para uma história de 7 livros sendo que apenas o primeiro foi lançado e portanto não conhecemos bem ainda esse universo, mas justamente por isso tenho liberdade criativa.

Creio que perdi o ritmo por falha de planejamento e provavelmente terei ótimas ideias mais tarde para melhorar o conto.

Paciência, o jogo é esse: escrever de surpresa e em quatro horas.

Esse foi o primeiro que fiz colocando o leitor como parte do conto. Não sei se ficou claro desde o começo, mas a ideia é que você sinta que está lendo um texto real enviado para a sua realidade e que, portanto, parte do conto acontece no seu presente enquanto o conto acontece no que seria um passado possível para Oxford.

Foram fontes de inspiração para esse conto: Fringe, Fronteiras do Universo e Doctor Who (o episódio que apresenta a fenda de Cardiff)