Sobre o projeto

Esse é o décimo quarto conto do projeto #UmSábadoUmConto (Post explicando o projeto)

Durante a semana as pessoas votam em estilo, gênero, público e época. O autor (eu) só pode saber o resultado às 8h de sábado e tem até meio dia para terminar o conto.

Cada conto é escrito com um processo criativo diferente (veja no final).

O que você vê a seguir é o conto com a mínima revisão. Você pode ler sem revisão no Google Docs.

O Conto

“Droga! Vou perder o ônibus! Vou me atrasar para o trabalho! Não suporto o jeito como o chefe me olha quando chego atrasada, como se pensasse ‘Mulheres… Deve ter passado horas se arrumando'”

Joana tem 24 anos, mora no alto da Santa Clara em Copacabana, um bairro chique do Rio na década de 80. Não tanto quanto Ipanema ou Leblon onde moram os mais ricos, mas certamente um bairro nobre de uma das cidades mais invejadas do mundo.

Ela está descendo a rua apressada em direção à Nossa Senhora de Copacabana onde pegará o ônibus para o centro da cidade, rua Presidente Vargas. Ela é secretária lá há quase dois anos apesar de já ter se formado em administração com uma excelente nota. São poucas as mulheres que conseguem se tornar executivas oficialmente, mas na prática muitas secretárias, com salários de secretárias, são as verdadeiras administradoras. É algo com que ela tem que conviver. O mundo é assim.

Joana nem percebe conscientemente que, ao passar diante da “Boca do Lobo” seu olhar se desvia para o túnel de uns 50 metros, escuro e ainda ameaçador, que passa sob um prédio e leva ao Bairro Peixoto, um oásis no meio de Copacabana. Um mendigo dorme lá como de costume.

Era ali no Bairro Peixoto que ela brincava há 15 anos… Ela, o Guilherme, que agora é seu namorado, e uma turminha de crianças que tiveram a sorte de viver em um mundo melhor. Menos violento, menos egoísta.

De vez em quando, quando está voltando do trabalho para o apartamento onde mora sozinha desde que os pais morreram, ela atravessa a temida boca do lobo e caminha um pouco pelo Bairro Peixoto. Sobe até o Pontinho, um boteco-restaurante quase saindo do bairro miniatura, e pede um refrigerante antes de seguir para casa.

Os pais lhe deixaram uma herança, mas não é o suficiente para ela viver de renda. O seu trabalho é importante para o seu futuro e Joana não é mulher de viver dependendo de um marido. Principalmente porque o Guilherme certamente não é o tipo de homem que vai sustentar facilmente uma família… Ele é artista. Fotógrafo. Mas não quer trabalhar para jornais ou revistas. Ele sonha em capturar a vida com tamanha emoção e realismo que possa vender suas fotos para grandes galerias.

Alguém dá um encontrão no seu ombro direito vindo correndo de trás dela.

“Merda! Minha bolsa!”

É claro que ela pensa que é um assalto e agarra com força a bolsa, mas ela vê que a pessoa é um senhor de uns 60 anos, cabelos bem brancos, que corre esbaforido, tropeça e cai no chão. Uma mancha vermelha escura começa a se formar sob ele. Joana olha para trás assustada, mas ninguém o está seguindo.

Como um velho pode ter fôlego para correr tanto? E ferido? “Meu Deus! Ele está ferido!” Joana demora vários segundos para se conscientizar da situação. Corre até o homem e se abaixa ao seu lado.

– Tudo bem, senhor, o senhor não está sozinho! O socorro já vem! SOCORRO! CHAMEM UMA AMBULÂNCIA – Pessoas começam a aparecer, uma acena da janela gritando que está ligando, um homem vem correndo de um prédio com uma valise de médico em mãos.

Joana pousa a mão levemente sobre o braço do velho para ele sentir que está acompanhado. Ele está caído de bruços, o rosto transtornado, mas não parece dor, parece outra coisa… Medo? Frustração?

Com um grande esforço o desconhecido pega algo no bolso interno do casaco, olha para Joana e diz com uma voz surpreendentemente firme e grave…

– Guarde isso com você Joana. Não deixe ninguém ver!

– Como o senhor sabe meu nome? Eu o conheço? – Estupefata Joana pega um tipo de couro do tamanho de uma folha de papel enrolado e amarrado com uma fita de sisal. Enfia na bolsa sem pensar enquanto olha para os lados para ver se alguém notou, mas o médico que vinha correndo acaba de chegar, atento ao homem no chão, e todas as atenções se voltaram para os dois. Aparentemente ninguém notou ou não se importou.

– Por favor, moça, se afaste, ajude a afastar as pessoas, sim? Ele precisa de espaço. – O médico estava abrindo a camisa do velho revelando três feridas equidistantes no peito, como três golpes de espada, ou de uma grande garra, coisa impossível no seio de Copacabana, é claro.

O homem olha para Joana uma vez mais…

– Jovem, você deve ir! Siga o seu caminho! Eu ficarei bem! Obrigado – Mas agora sua voz profunda já dava sinais de fraqueza.

Joana dá três passos para trás olhando ao redor. Será que antes ela a havia chamado de jovem e não de Joana? Será que seus ouvidos se confundiram pela emoção? Ela decide seguir o conselho e segue, sem correr, para o ponto de ônibus. Meio amortecida. O atraso já era inevitável a essa altura.

– Alô, Guilherme? Preciso encontrar com você hoje de noite! Uma coisa muito estranha aconteceu… Só contando pessoalmente!

Joana está no escritório, num daqueles dias em que nada acontece. Aberto diante da mesa o pedaço de couro que o velho lhe entregou. Tem um mapa. Ele mostra claramente o Bairro Peixoto e uma seta aponta para a Boca do Lobo. Ao redor, em espiral, tem palavras escritas. A última termina bem do lado de fora da passagem que tanto mexeu com as fantasias da Joana e sua turma de infância.

Eram vinte e cinco palavras, todas difíceis de pronunciar como Castrastvosh, Shuliemportast e Bumlurdunclum. Só a última era normal: entre.

Aos 24 anos ainda não somos totalmente adultos, ainda não deixamos de acreditar totalmente na fantasia… Sim, tem gente que acredita para sempre, mas de um jeito adulto que é estranho e nada saudável, é um tipo de fantasia que tantas partes de nós sabem que é falsa que acaba se transformando em um tipo de delírio. Aos 24 não… Ainda somos capazes de acreditar de verdade!

Foi o que aconteceu com Joana e Guilherme. Parados de noite na Santa Clara diante da Boca do Lobo.

Apesar de escuro dava para ver que entre as pichações dentro do túnel estavam várias das palavras do pedaço de couro.

Guilherme estava intrigadíssimo! Perguntava como quem afirma se que aquilo não podia ser uma brincadeira, o homem estava seriamente ferido, não é? Joana ficava parada diante da passagem olhando ora para dentro, ora para o mapa com as palavras, mas internamente ela estava no meio de um tornado.

– É ridículo, mas temos que ver se alguma coisa acontece, Guilherme. Vem. Vamos ler as palavras.

E eles leem. Juntos. Em voz alta.

Pouca gente anda naquela região depois das 9h da noite, mas uma pessoa ou outra passa olhando para os dois quase adultos falando palavras estranhas.

– Entre?. Agora a gente entra, é isso Joana?

Aparentemente nada aconteceu. A Boca do Lobo é a mesma de sempre, a praça e a banca de jornal do outro lado são as mesmas de sempre, mas os dois atravessam o túnel escuro e pichado.

Do outro lado é mais claro, o espaço é mais aberto e a Lua consegue iluminar muito melhor, ao contrário do que acontece no estreito corredor de prédios da Santa Clara. Isso dá um clima diferente, mas pode ser apenas a nostalgia dos dois.

– Jô, nosso primeiro beijo foi ali na praça numa noite assim, lembra?

– Claro que lembro, seu bobo! Você tremia e gaguejava e eu te beijei antes que você desmontasse inteiro que nem um jogo de lego! O mundo era bem melhor… Gui!!! GUI!!! Olha do lado da fonte!!

Ela soca o braço dele apontando na direção. O queixo dele cai imediatamente e ele começa a esfregar os olhos para focar melhor a visão. Não tem nada errado com ela… São eles dois, ainda com seus 12 anos dando o primeiro beijo. Não é um casal de crianças parecidas com eles. A luz generosa da Lua não deixa dúvidas.

– Mas… Somos nós, ok, Jô, não tenho dúvidas disso, mas o resto está errado! Não era assim na nossa infância! Olha ali perto da Anita Garibaldi… Não são duas pessoas negociando drogas? Olha ali aquele outro casal mais velho. O cara está sendo rude com a mulher de um jeito que só hoje a gente vê.

– Gui… Meus pais estão vivos! Eles devem estar vivos!! Nessa noite eles não estavam na casa dos seus pais jogando buraco?

Os dois correm o mais discretamente possível subindo a Maestro Francisco Braga. Os pais do Guilherme moravam num apartamento no primeiro andar, desses que são quase no nível da rua.

Realmente lá estavam os quatro… Mas a distorção também ocorria ali… Eles não eram os adultos sérios e estáveis de que os dois lembravam. Pareciam pessoas modernas. Vivendo um relacionamento falso, tanto entre eles quanto com os amigos. Dava para notar no tom de voz, nos olhares que trocavam. Estava claro que uma parte de cada um deles não gostava dos amigos.

– Cara… Isso não pode ser verdade, Gui! Acho que a gente está no Inferno! Quero ir embora… Não! Não quero! A gente tem que entender o que é isso!

Lágrimas correm dos olhos de Joana. Em sua memória o pai e a mãe eram perfeito amor e agora ela via uma mulher submissa e um homem cansado dentro da casa dos amigos.

Para Guilherme era mais fácil. Os pais estavam vivos e ele viu como eles foram ficando cada vez mais velhos. Talvez sempre tenham sido assim e era ele que não percebia, mas achou melhor não falar nada com a Joana.

Eles decidem fazer a volta passando pela Décio Vilares e notam que existe um tipo de fronteira. É quase imperceptível, como um tipo de desfocado bem onde termina o Bairro Peixoto e começaria o mundo normal. Tem aves voando, mas aves não voam a essa hora da noite… É uma ou outra apenas, passam como sombras do tamanho de gaivotas voando baixo ou algo muito grande voando alto.

O Pontinho está povoado de pessoas do passado, não que as conheçam, mas se comportam diferente, se vestem diferente, mas não são como eles as percebiam quando tinham 12 anos.

– Guilherme? Tenho medo disso não ser o Inferno… Será que era assim e a gente não via?

– Meu amor… Eu não sei… Mas quero que seja um passado alternativo ou o Inferno ou então minha infância é que terá sido um paraíso ilusório no meio de um Inferno muito real.

– E se a gente tentar falar com alguém? Será que a gente… Gui!! É o homem!!! O que eu vi morrer ou ficar muito ferido hoje, sei lá! Ali no Pontinho! Temos que tentar falar com ele!

Os dois vão se aproximando, o homem está chegando, já bêbado e trocando as pernas, as pessoas olham reprovadoras para ele.

Quando eles estão prestes a entrar no bar uma pessoa os atravessa entrando. Literalmente atravessa! Eles estão intangíveis e certamente invisíveis! O único sinal que a pessoa dá é um arrepio e uma rápida olhada inconsciente para trás.

– Que coisa assustadora!!! A gente é como fantasmas aqui!! Será que sempre nos arrepiamos é por isso? Pessoas de outras dimensões ou outros tempos passando por nós? – Guilherme se arrepia se abraçando com os próprios braços

– Mas a gente não veio parar aqui à toa… Temos que fazer alguma coisa Gui! Você é o artista! Tenha uma ideia!!! Rápido!!

– Porque o artista é que tem que ter a ideia? Não entendi!! – Ele ri achando realmente engraçado. Joana franze a testa, mas seus olhos estão sorrindo.

– Sei lá, cara! Artista é que vê outros mundos, não é? Ah! Sei lá, seu bobo!! Só sei que deve ter algo que a gente possa fazer… para… Será que conseguimos nos comunicar com nós mesmos? Você lembra de ter conversado com alguém naquele dia?

– Só lembro dos seus lábios Jô E de ficar muito tonto enquanto te beijava…

Joana olha para ele com aquele olhar divertido de mulher mais madura que acha graça do menino apaixonado. Tinha horas que ela achava que ela era o homem da relação. Mais madura, mais séria… No entanto talvez a humanidade sempre tenha sido assim. Talvez essa expectativa seja apenas mais uma besteira da nossa sociedade que acha que gente bonita tem que ser burra, homem tem que ser bruto, mulher tem que ser frágil.

Os dois correm para a Maestro Francisco Braga para interceptar eles mesmos e se encontram caminhando juntos, de mãos dadas, voltando para casa.

Quando estão há pouco mais de 50 metros suas versões infantis soltam as mãos. Estão sem graça de serem vistos! Então eles podem vê-los!!

– Olá crianças! – Guilherme toma a iniciativa – Vocês podem nos fazer um favor? Meu pai está lá no Pontinho. É um senhor de cabelo branco, camisa branca listrada de azul, uma calça social e sapatos de couro marrom sem cadarço. Ele está sentado na terceira mesa colada na varanda dos fundos para a frente. Vocês podem pedir para ele se encontrar comigo na boca do lobo?

– Claro, senhor! A gente avisa! – é a Joana criança que responde. O Guilherme criança está com uma cara abobalhada de esquilo que foi pego roubando bolo da janela.

Eles observam suas versões infantis seguirem o caminho.

– Você é maluco, né Gui? E se eles lembrarem disso e… Quer dizer… Eu não lembro disso… Aff!! O meu medo é a gente mudar o futuro!

– Também tô com medo, Jô. E não faço ideia do que faremos agora! O homem não vai nos ver, mas talvez a gente possa deixar o mapa de couro no chão para ele achar? Ainda temos que ir embora daqui de algum jeito, né? Já pensou nisso? Espero que baste passar de volta pela Boca do Lobo…

– Viu? Eu disse que artista entende dessas coisas! Vocês já são naturalmente malucos ;)

Conforme eles vão se aproximando da Boca do Lobo vão sentindo que tem alguma coisa diferente. Um frio antinatural vem subindo pela rua. Quando chegam mais perto percebem que é como se a escuridão estivesse vazando do túnel. Mal dá para ver a banca de jornal… Então eles escutam o rosnado… E o som de algo como uma marreta batendo no chão.

Eles estão agarrados um ao outro sem saber o que falar. O medo sobe pela coluna deles, mas os dois sentem que aquela é a única saída e, quem sabe, o velho terá alguma pista para eles? Talvez ali, perto da Boca do Lobo, eles possam se ver…

– Jô Presta atenção na escuridão do túnel… Tem coisas se mexendo lá Será que, se dissermos as palavras ao contrário a gente…

– Não!!! Elas terminam em “entre”. Tenho medo da gente fechar a porta e ficar preso aqui! Deve ter outro para sair!

– Não… Não tem… É a voz mole, totalmente embriagada, mas é a mesma profunda e forte que a Joana ouviu mais cedo.

Os dois olham para trás e lá está o senhor balançando de um lado para o outro.

– Já chei que vochês ixtão mi con… condenando pela bebedeira… Poix eche é o milhor jeito di enxerga ash coixas, as coiSas. Todo mundo chabe que alguém abriu uma pachagem, passagem… Bem, pelo menos… Pera…

O homem tira umas folhas do bolso do casaco, coloca na boca e mastiga fazendo uma cara de quem está mastigando limão.

– Melhor assim! Tão perto da passagem eu já não preciso estar bêbado para vê-los… Tem outras formas, mas eu não sou um mago, sou apenas um homem comum… Eu conheço vocês? Certamente nenhum dos dois é meu filho ou filha…

– A Joana conhece o senhor…

Joana crava as unhas no braço do Guilherme e o interrompe antes que ele fale que ela o viu morrer ou quase isso.

– Senhor? Eu não entendo bem – Começa ela – Mas um dia o senhor me entregará isso – e passa o pedaço de couro para ele… Tem marcas de sangue ainda meio fresco – que foi o que usamos para chegar aqui.

As sombras continuam se espalhando para fora da Boca do Lobo e um tipo de ave sai de lá, uma criatura com quase 4 metros de envergadura, patas com três garras afiadas e um bico maior do que um punho fechado. Ela alça voo direto para o alto buscando com seus olhos aquilinos por um alvo.

– Vocês dois! Se abaixem! Ela quer o pergaminho de couro! Ela vai me seguir, todos eles vão me seguir! Contem até quatro e venham atrás de mim!!

A Joana o segura antes que ele saia correndo e grita “NÃO”. Ela percebe que teve que gritar porque agora os ruídos que saem da Boca do Lobo são ruidosos como uma grande cachoeira.

Ela procura nervosamente por papel e caneta na bolsa e joga no peito do Guilherme…

– O Senhor precisa levar isso!! – E virando para o namorado – Gui, coloca meu nome e telefone aí!

O homem tenta se desvencilhar das mãos da Joana que começa a chorar, não, o senhor precisa levar isso.

– Não há tempo menina!! Mais deles vão sair e aí nem a atração do mapa vai impedi-los de romper o véu para sempre!

Ela vê o Guilherme colocar o papel nervosamente no bolso da calça do homem e o solta. Ele dispara em direção às sombras tão densas que parecem um tipo de líquido e desaparece.

É como se ele tivesse aberto um ralo no fundo de um tanque… As sombras começam a voltar para a Boca do Lobo formando turbilhões e um buraco, como o olho de um furacão, bem no meio das sombras.

– Dois… três… quatro… Vamos?

O olho se torna cada vez mais largo e fundo, mas ainda não dá para ver o outro lado da Boca do Lobo, entretanto eles mergulham lá assim mesmo.

Ao redor, passando pelas sombras como grandes baleias em um oceano, eles enxergam silhuetas assustadoras. Por várias vezes garras enormes ou mãos compridas com unhas negras se projetam em direção a eles, mas sem alcançá-los. As sombras já se fecharam atrás deles, mas ainda não se abriram à frente… Eles sentem as pernas fraquejarem, são pouco mais de 50 metros, mas parecem centenas! E se as sombras não se abrirem do outro lado?

Eles se forçam a correr e vão de aproximando da parede de sombra à frente quando percebem um pequeno buraco bem no meio que vai aumentando até perceberem que é a Santa Clara, mas ele ainda é estreito demais e eles precisam pular atravessando as sombras.

A sensação de tocar as sombras é terrível! Um medo profundo toma conta deles! As roupas ficam rasgadas, mas por sorte nenhum dos dois foi ferido.

Olhando para trás eles percebem que as sombras agora parecem apenas uma leve névoa.

Os dois correm para a casa da Joana, encontram a secretária eletrônica com vários recados. É o hospital “Boa tarde, estamos com o senhor Jorge Ferreira internado aqui. Ele passa bem e poderá ser visitado das 8h até as 17h diariamente”

Os dois ligam a TV para saber que dia é e concluem que devem ter passado pouco mais de dois minutos onde quer que tenham estado.

Eles decidem ir até o hospital mesmo fora do horário de visita… Tem que ter como dar um jeitinho!

Realmente com algum papo e uma propina leve eles conseguem encontrar com o homem.

– Então vocês conseguiram sair! Que bom!! Que bom!! Imagino que vocês tenham várias dúvidas… Lamento que tenham sido envolvidos nisso… Aquela porta estava frágil havia anos… Um mago poderia abri-la ou fechá-la, mas uma pessoa comum como eu, que não consegue sonhar, só pode testemunhar as coisas. As crianças, quase todas, são magos em potencial e percebem coisas como a passagem da Boca do Lobo.

– Não entendo, sr. Jorge? Como o senhor pode ter nos entregado o pergaminho que nós entregamos para o senhor?

– O pergaminho está perdido agora… Preso naquele paradoxo. É assim que o mundo funciona quando a gente não está olhando ou quando é olhado por outros olhos… Mas tenho uma advertência para vocês… O pergaminho não abre portas, ele abre mentes… Se eu lesse nada aconteceria, mas vocês são sonhadores… Vocês agora podem abrir e fechar portas. Agora entendo porque fui mandado para lá há 12 anos… Para lhes dar esse recado… Na verdade esse é outro paradoxo pois essa é a última vez que vou vê-los, mas vocês ainda me encontrarão novamente…

Fim?

Observações

A cada conto a gente aprimora alguma coisa.

Dessa vez acho que a descrição do processo criativo ficou melhor (está a seguir), mas acabei ficando com pouco tempo para desenvolver o conto que pedia mais desenvolvimento dos personagens e um desenrolar muito mais fluido.

Acabei não conseguindo introduzir a aventura no começo e acabou ficando um conto de suspense com um toque de terror.

A solução é simples: ao atravessar a Boca do Lobo eles já percebem criaturas passando junto com eles forçando-os a explorar o lugar enquanto fogem das criaturas das sombras.

Como esse projeto tem limitações (só sei o que vou escrever na hora e tenho 4h para a criação inteira) fica difícil mudar o rumo no meio do processo.

Mas como a pressão é muito legal eu não pretendo mudar isso tão cedo.

Tenho outras ideias, mas aí serão outros projetos. Depois falo neles ;)

Eu não gostei da forma como coloquei os questionamentos deles sobre as diferenças entre o passado e o presente. Ficou bruto. Acho que a ideia foi passada, mas ficaria muito melhor se fosse mais sutil.

O processo criativo

Me comprometi a usar uma estratégia em cada conto enquanto desse, mas, das 14, só falta um (depois dele terei novidades para essa parte!):

  1. Retalho de outros autores / histórias. É preguiçosa também e fica com cara de plágio apesar de ser comum (as histórias mitológicas por exemplo)

Ops! 10 minutos atrasado!! Vamos ver o que escreverei hoje!

Aventura deu de lavada nos outros! Além disso será uma fantasia jovem no passado!

O pessoal foi bonzinho comigo ;-) Como bom fã de fantasia será mais fácil colher um retalho de outras histórias assim!

É interessante como a nossa mente funciona, né? Nesse exato momento só lembro de Senhor dos Anéis… Só aos poucos vou lembrando de outras histórias de fantasia como Fronteiras do Universo, The Bone Season (que estou lendo), A Série Cor da Magia do Terry Pratchett, agora lembrei de Harry Potter e aí um caldo de ideias zanzam pela cabeça sem que eu me lembre dos nomes…

Ia começar comentando que tive um sonho essa noite pois sonhos influenciam a nossa criatividade. Pode ter a ver com a série Arrow que estou assistindo por causa da Vivi Maurey (e até que ela vai ficando interessante do meio da primeira temporada em diante). No sonho havia essa empresa que era um prédio térreo e extenso, mas na verdade se tratava de uma fachada para uma organização secreta. A entrada era pulando de uma passarela em cima de um gramado que, na verdade, era uma ilusão de ótica que escondia um buraco. Uma coisa meio a entrada da Audácia em Divergente.

Bem.. Dito isso vamos pensar em mais alguns universos de fantasia… Tem, claro os de terror como Drácula e Lobisomem que podem ser enquadrados em fantasia dependendo de como pensamos em suas origens. Lembrei agora… Lembrei e esqueci! Acontece quando a gente deixa a cabeça aberta para todas as imagens passarem diante dela, mas dá raiva! A ideia era boa! Talvez não para jovem, mas era boa… Vou tenta lembrar… [8h20] a [8h21] Não tá vindo, não adianta pensar muito quando a coisa corre de novo para o inconsciente e lembrei das Crônicas de Spiderwick que não li, só vi o filme, mas tem um universo de fantasia bem interessante. Também temos Ponte para Therabítia que é um outro tipo de fantasia que indico para todo adolescente que gosta de ler! Dá para usar a ideia para leitores um pouco mais velhos, mas se eu usar isso terei feito um grande spoiler agora, né?

Vamos pensar um pouco nos outros dois pontos, esse é um erro que tenho cometido nos outros contos: penso só no estilo ou no gênero e até esqueço das outras coisas (já fiz conto no futuro quando devia ter sido no presente!!).

Uma aventura? Um erro que acho que muito autor comete (principalmente roteiristas) é achar que aventura é uma sequência de cenas de ação. Toda e qualquer boa história deve ter algo a contar. Aventuras são boas para falar em auto-confiança, em superação de limites que nos impomos ou são impostos a nós, mas também podem ser sobre fidelidade ou auto-sacrifício.

Aliás andei vendo que tem gente que confunde o auto-sacrifício com um tipo de auto-desvalorização, como se fosse até uma forma de suicídio, de desvalorização da vida. Isso não poderia estar mais errado! Não é auto-sacrifício se for assim. O auto-sacrifício (nossa, quanta repetição!!!) é justamente colocar a própria vida ou bem estar em perigo por super-valorizar a vida, não só a própria, mas a dos outros também.

Temos então uma aventura jovem… Quais são as questões mais importantes para os jovens?

Vemos muitas histórias que falam do egoísmo e do egocentrismo dessa galera. Isso está nas principais distopias que tem feito sucesso ultimamente, já percebeu? Só que tenho minhas dúvidas… Talvez esse egoísmo seja uma coisa que incomoda mais os adultos que os jovens. Não os vejo tão egoístas assim… Pelo contrário! Eles acham que os colegas são egoístas porque estão inseridos em uma cultura egoísta e se incomodam com isso, o egoísmo salta aos olhos porque incomoda. Basta ver que são os jovens em geral que se mobilizam para protestar a favor do bem comum, são eles que saem em missão pelo mundo para alimentar os outros ou curar quem precisa de médicos. Jovens aqui pegando o pessoal até os vinte e poucos, claro.

Apesar de uma aventura jovem sobre auto-sacrifício, egoísmo, fraternidade ser meio lugar comum acho que a questão é importante. Vivemos um momento em que precisamos seguir para o lado oposto: temos que aprender a nos colocar no lugar dos outros empaticamente, vendo e sentindo o mundo como eles.

Ser no passado é bom porque a gente idealiza tanto o passado, achamos sempre que ele foi melhor que o presente.

Desconfio que isso acontece porque chamamos de passado o tempo da nossa infância… Não era o passado que era melhor, eram nossa forma de ver o mundo.

Pronto… A história está surgindo na minha cabeça… Dois grupos de jovens… Um teve uma infância difícil no passado o outro teve aquele tipo de infância que nos deixa nostálgico ao lembrar dos anos que já se foram. Os dois grupos estão jovens agora, mas agora é na década de… 80. Uma década que quase todo mundo acha melhor que agora. Desse jeito pego os anos 60, os 80 e agora pois quem lê, obviamente, está lendo em 2014 hahaha! Pelo menos nesse momento. Em uns 10 ou anos a leitura talvez seja outra.

A Ilha do Dr. Moreau? Isso é scifi ou fantasia? Lembrei dela agora, mas já é meio tarde porque, para facilitar a criação já que vi que o conto deve ficar meio extenso, estou pensando em ambientá-lo em cenários da minha infância em Copacabana, no Bairro Peixoto.

Ah! Tem isso! Um universo de fantasia em que trabalho literalmente há décadas em que os “miolos” de quarteirões podem conter pequenas florestas que são pontos de conexão para mundos mágicos, ou melhor, para a Terra mágica sem as marcas da civilização, um lugar com magos, bruxas e dragões.

Já tenho boa parte dos elementos para começar, mas ainda falta a fantasia… No meio do Bairro Peixoto tem uma praça… Tem também a Boca do Lobo! Isso serve bem! É uma passagem sob um prédio que leva para fora do Bairro Peixoto ligando-o à Santa Clara. Em nossa infância a gente tinha pavor dela! Não atravessávamos porque tínhamos medo de assalto (comuns na década de 70) e também de coisas sobrenaturais pois ele era escuro apesar de ser curto, uns 50 metros acho. Ele pode ser um tipo de portal em certas circunstâncias para essa história. É um bom elemento de fantasia… Humm… Pode nos levar a algo que parece a infância dos protagonistas, mas talvez não seja…

Acho que vou tratar justamente da nossa percepção dos tempos de criança. Será que, se você voltasse agora para a sua infância sem rejuvenescer e olhasse o mundo o acharia melhor que é hoje? Será que admitiria que é o mesmo mundo ou pensaria que entrou em um tipo de dimensão maligna que parece seu passado, mas não é? Isso aliás me lembra de Coraline do Neil Gaiman! Vou usar esse retalho com certeza!

Recapitulando… Aventura de fantasia jovem no passado. Vou fazer em dois passados então: década de 80 e de 60. Os retalhos de outras histórias que usarei para inspirar o conto serão Ponte Para Therabítia, Coraline e meu próprio universo de “miolos” de quarteirões ;-) Esse último é um pouco de roubo, né? Pera… Lembrei de Pierce Jackson e o uso de mitologia… Lembrei também do Legado Folclórico do Felipe Castilho… Não dá para colocar coisa demais também porque fica ruim. Mas vou fazer um mix desses dois com as Crônicas de Spiderwick.

Como faço para misturar essas histórias todas no conto? Na verdade não é um processo cirúrgico, eu simplesmente as terei em mente enquanto escrevo, repensei nas histórias, nos pontos que mais lembro delas. Só vou dar mais atenção mesmo é para os três primeiros: Coraline, Therabítia e meus “miolos”.

[8h55] pausa para comer alguma coisa e deixar a imaginação digerir essa ideia, afinal ainda não estabeleci o argumento, a aventura em si e terei que tomar cuidado para não resvalar para o infantil já que vou pegar também essa época [9h17]

Ih! Sentei para escrever o que pensei enquanto tomava café e lembrei que nem olhei as sugestões!!! Só tem uma! E vou fazer! Ufa!! Pediram Realidade Alternativa e vai ter a ver com isso!!

Também teve uma pessoa vindo do canal do YouTube! Que legal!!

Bem, tenho que correr porque me atrasei 10 minutos e faz diferença! Enquanto tomava café decidi que a protagonista será a Joana, 24 anos, está há dois no seu primeiro emprego. É o começo da década de 80. Ela mora na Santa Clara e passa em frente à Boca do Lobo quando vai para o trabalho e entra por ela no Bairro Peixoto de vez em quando por pura nostalgia pois é onde ela brincava com os amigos quando tinha lá seus 10 anos.

Ela namora o Guilherme que é amigo de infância.

Sei que a aventura envolve voltar ao passado para impedir que algo aconteça no presente… Quando foi a Rio Eco? 1992. Não serve. Ainda preciso decidir qual é o evento que dará início à aventura?

[9h26]

Tá ai… A gente sempre pensa em coisas grandes, em tramas onde os protagonistas precisam salvar o mundo. Isso é bom por um lado, mas e a importância das coisas singelas? Já sei qual será o gatilho da aventura! Mas vou deixar vcs descobrirem no conto!

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