Imagem: Tarsila do Amaral (porque diversidade é uma riqueza)

Um contato no FB (acho que ironicamente era sério) defendeu o prefeito do Rio por não ter cumprido seu papel político abrindo o carnaval da cidade. Aliás o prefeito jamais poderia se ausentar da cidade nesse período crítico de festas e chuvas como lembrou uma amiga.

Disse que ele, o prefeito, é evangélico e serve ao deus altíssimo que ele, o prefeito, escolheu e que a cidade e o país ficarão muito melhores.

Essa frase “deus altíssimo que ele escolheu” é por minha conta já que as pessoas que escolhem deuses raramente enxergam assim porque meio que acham que elas é que foram escolhidas pela divindade. No entanto acho importante destacar que existem literalmente milhares de formas de vivenciar suas crenças e que elas são decisões nossas. Seja por decidirmos seguir a tradição do nosso grupo, seja escolhendo outra religião.

Como achei que era ironia e ela é um instrumento perigoso pois muitas vezes é interpretado como uma afirmação séria, decidi comentar o seguinte:

“Esse é o grande problema… Um líder religioso deve servir ao deus altíssimo da sua escolha e daqueles com crença similar. O político deve servir a todos os deuses e ao povo.

É como se um político que servisse ao deus altíssimo do induísmo desrespeitasse uma festa cristã.”

A conversa seguiu tomando ares cada vez mais surreais até chegar em:

  • Não se preocupem, todos os anjos foram convocados para cuidar da cidade;
  • O apocalipse diz que todas catolicismo, judaísmo e outras religiões desaparecerão;
  • Fique calmo pois Jesus está voltando e seremos todos separados cada grupo em seu planeta

Tive que pensar um monte de vezes e perguntar outro tanto por não acreditar que algum conhecido meu tinha ideias tão estapafúrdias.

Tudo indica que ele falava muito sério.

O mais perturbador nisso tudo é perceber que existe um tipo de muro que impede que a pessoa escute qualquer coisa que nós digamos.

Se a pessoa sonha com o dia em que haverá um planeta só para gente como ela e outros para gentes diferentes dela, então por que era meu contato no FB? Por que escreve coisas públicas lá? Sempre podemos construir nossas bolhas, nossos planetas pessoais, nos isolar do mundo que acabará no lago de enxofre como me foi dito.

Claro que existe aí o desejo de fazer todos se curvarem ao deus que a pessoa criou para si que é mais ou menos o mesmo que se curvar para ela.

Isso me fez repensar minha relação com os contatos do Facebook.

Até hoje eu só desamigava arautos do ódio: homofóbicos, misóginos, racistas. Não os casuais que agem irrefletidamente, mas aqueles que são mesmo ativistas.

Decidi no entanto que não faz o menor sentido continuar sendo contato de alguém que despreza todos que não concordam com sua verdade (nem sempre é uma verdade religiosa) e não é receptivo a reflexões, questionamentos.

Se não hé diálogo como pode haver contato?

E no caso das pessoas com uma visão maniqueísta que divide a humanidade em um bom e muitos ruins a ponto de desejar que os outros sejam extintos ou deportados para um inferno será que não estamos diante de um dos ativistas do ódio?

Fico então entre duas opções: desamigar ou bloquear?