Cheguei de lá ainda há pouco.

Muita coisa mudou do século passado para cá.

Nos tempos pré-Internet amantes de livros como nós caminhavam encantados pelos corredores das bienais sentindo-se em Aleph de Borges ou nos próprios labirintos da biblioteca de Alexandria.

Era a única oportunidade de ver todos os títulos disponíveis no mercado editorial. Agora está tudo na Internet.

Era o único lugar onde podíamos obter aqueles livros que não achávamos em nenhuma livraria. Agora está tudo online (na pior das hipóteses na federação de sebos Estante Virtual).

Lá também havia descontos que nos permitiam comprar o dobro de livros que compraríamos nas livrarias. Na verdade era também o dobro de livros que poderíamos ler em um ano :)

Tudo isso passou, mas pelo jeito as editoras e livrarias não perceberam.

O que restou foi o encanto de caminhar entre dezenas de milhares de títulos, verdadeiras florestas de papel (dane-se o meio ambiente!) com aquele som característico de folhas farfalhando e o cheirinho da tinta (mais uma vez, quem se importa com o meio ambiente? Sempre quis viver em uma cidade subterrânea).

É claro que dá para garimpar alguns títulos que não achamos online simplesmente porque ainda não inventaram uma representação virtual de biblioteca tão eficiente quanto os livros espalhados ao nosso redor.

Vamos aos destaques!

As pessoas

Pegamos o horário lotado de jovens ávidos por vampiros que brilham no sol como fadas, Stefani Germanota e outros ídolos pop.

Vários deles também se interessavam por literatura mais respeitável e lamentavam não ter levado os pais para comprar grossos livros em editoras como a Cia das Letras.

Também achei a maioria muito bem educada! Quer dizer… caóticos como todo adolescente, mas sinceramente, mais sérios que a minha geração.

O Mercado

Lembro bem da quantidade de pequenas editoras na primeira bienal que fui. Aliás, a edição do Rio ainda tem uma boa quantidade delas, mas é inegável que as que não se tornaram grandes (como a Planeta – merecidamente-) acabaram sumindo do mercado ou talvez achando que não vale a pena investir na bienal.

Vi, toquei e abusei de um iPad, mas vou falar nisso depois, a questão agora é o livro digital…

O estande que disponibilizou perto de 10 unidades dos principais e-readers do mercado não preparou seus promotores para mostrar os aparelhinhos.

Atenção distribuidoras! Não é o livro digital que vai vender gadgets, são os gadgets que vão vender livros digitais!

Ficou a nítida impressão que a maioria oferece livros digitais como bancas de jornais oferecem balas e biscoitos… Quem é do ramo sabe que muitas vezes é daí que vem o lucro…

Os tradicionais e desesperados vendedores de enciclopédias e revistas continuam por lá, mais desesperados a cada ano e ainda mais ignorados pelo público. Dá pena.

Coisas bizarras

Não lembro de ter visto estande de parque aquático e hotéis nas outras bienais. Nessa tinha até um vendendo graxa de sapato!!!

Ainda não decidi se isso é bom, ruim ou somente engraçado.

Tinha um Narnia Day rolando em um estande, mas a parte que ouvi era muito estranha com direito a “estamos aqui com o cordeiro”… Cordeiro? Não lembro de nenhum cordeiro em Narnia! Lá quem faz esse papel é Aslam, o leão.

Mas estranho mesmo era o quiosque de graxa de sapato que não me sai da cabeça! :-)

Tinha o iPad!!

É, mas vou falar dele depois!

Garimpo

Quando cheguei no meio da exploração tive que me apressar para ir embora e portanto não garimpei como gostaria, no entanto assim mesmo esbarrei em algumas coisas interessantes.

Decidi dar uma olhada com atenção nos títulos da Larousse (era http://www.larousse.com.br, mas naufragou) pois em um lance de olhar identifiquei o Efeito Lolita, de Meenakshi Gigi Durham, e mais uns 4 títulos que pareciam interessantes.

Aliás havia outros livros sobre como os jovens e as jovens modernas tem vidas que são impróprias para menores… Será que não está na hora de parar de fazer de conta que as crianças são seres imaculados e reconhecer que elas estão expostas à visão distorcida que os adultos tem do sexo, da amizade e do trabalho?

A Campus também não estava má e encontrei lá o Geração Y no Trabalho de Nicole Lipkin e April Perrymore que pareceu bem interessante.

Logo na contracapa a gente lê “total inversão de valores”. E pensar na dificuldade que a gente tem para mostrar isso para as pessoas que não estão online e/ou não são da geração Y…

Ok, eu sou da geração X, mas se queremos continuar existindo temos que ir nos transformando e hoje me atrevo a dizer que sou, pelo menos, um membro honorário :-)

É claro que não li o livro, mas pela folheada ele promete.

Quer saber? Estar no meio de livros é uma experiência quase mística para mim, mas me arrisco a dizer que a bienal valeu pela oportunidade de manusear um iPad bem recheado com livros.

Enfim o iPad

Nós já estávamos de saída quando deparamos com o tal estande cheio de Kindles, iPads, Collers e leitores da Sony.

Primeiro saltei em cima de um belo Kindle e a primeira coisa que fiz foi clicar acidentalmente no botão de voltar que fica exatamente onde o dedão de uma pessoa destra se apoia ao segurar o aparelho…

A segunda coisa que tentei fazer foi aumentar as letras pois realmente estavam muito pequenas. Não descobri como e a promotora só havia sido treinada para falar de livros digitais.

Conclusão: apesar de ser muito agradável olhar para um Kindle, da tela ser do tamanho de uma página de livro (ou maior) a minha primeira experiência com ele foi frustrante.

Logo me desinteressei pois não parecia ter muito mais para ver nele e ninguém sabia explicar como ele funcionava (só sabiam dizer o que eram livros digitais).

Fui para o iPad.

Não o fuxiquei por mais de 15min.

Ele é pesado, mas menos do que eu imaginava.

Ele parece pequeno, mas ao espiar coisas na tela dele elas parecem do tamanho ideal.

A edição de Alice infantil para ele é mesmo impressionante. A legibilidade é excelente. Localizar palavras ou usar o dicionário também é trivial.

Os livros em PDF aparecem no mesmo aplicativo que ficam os livros comprados e não se nota grande diferença entre eles.

Naveguei por uns jornais, pela Wired e me controlei para não tentar ler quadrinhos pois desconfiei que não conseguiria sair dali.

Para não falar que é perfeito realmente o peso dele pode ser um pouco desagradável e o teclado exige o desenvolvimento de alguma técnica de empunhadura ou extensores para os dedos ;-)

Ainda assim decidi que realmente vou comprar um (ou dois para não dar briga).